Meu apartamento tem como vizinho uma escola. Não entrarei no mérito se ela é particular, estadual ou municipal. O quarto da Sophia fica praticamente dentro da quadra de esportes dessa escola. Todos os dias eu acordo as 07h30min e saio uma hora depois e volto apenas na parte da noite, quando a escola já está fechada. Nessa uma hora no período da manhã, todos os dias tem gente na quadra jogando bola, conversando ou brigando. Não sei se estão fora da sala de aula, se é educação física ou recreio, mas sempre tem muita gente na quadra.
                                                                        
Como boa observadora que sou –e tenho prazer nisso, muitas vezes já fiquei no canto da janela bisbilhotando a vida alheia. Já vi meninos brigando; já vi casal se pegando (cenas de filme de gente grande encenadas por gente pequenas); já vi professor chamando atenção de alunos … e posso assegurar que em quase todas as situações, haviam palavrões no meio da conversa/discussão.
Eu venho de uma família que não fala “nomes feios”. Minha avó não permitia que os filhos (minha mãe e tios) falassem sequer “bunda”! Cresci assim! Acho muito horrível os sinônimos de cocô e xixi! Poucos palavrões saíram da minha boca, se falei foi no impulso de uma topada do dedinho mindinho no canto da porta. Papai Ramon graças a Deus também não é dos mais bocas sujas. Tenho certeza absoluta que se algum dia Sophia falar foi porque ouviu fora de casa.
Minha geração usou e abusou do cara, principalmente as meninas! Tudo era cara! A gente chamava o pai e a mãe de cara; chamava a amiga de cara; a gente chamava o professor/a de cara; a gente chamava o cachorro de cara… sério, qualquer um ficava de cara com o tanto de cara que a gente falava! Era muito feio … mas era a gíria da moda!
Hoje, em qualquer frase – eu disse qualquer frase- palavras como c&r#lho, b*$ta, ou m&#da são aplicadas. E não são como adjetivos, são como substantivo, verbo e pronome. O pior é que não estou falando de pessoas com mais de dezoito, vinte, trinta anos, estou falando de crianças de oito, nove, onze anos!
Tenho a impressão –para não dizer certeza- que esse linguajar é falado apenas fora de casa como uma afirmação de “sou independente, sou rebelde, ninguém manda em mim”. Para minha surpresa, e tristeza, as meninas falam muito mais e com mais intensidade do que os meninos. As meninas não falam p%$$a, elas destilam a palavra com um prazer tão grande. Parece que é uma libertação do mundo em que vivem!
Perto do restaurante que almoço todos os dias também tem uma outra escola … semelhante a que tem perto da minha casa. Os adolescentes fumam maconha no caminho da escola para casa, assim, no meio da rua como se fossem autoridade mundial! As roupas das meninas cada dia mais justas e curtas, completamente opostas as dos meninos que cada dia são maiores e mais largas. E eles completam com frases desconexas e repletas de palavrões. Não existe mais verbo de ligação … existe palavrão de ligação.
O que me deixa mais “triste”, é ter a impressão que o erro está na estrutura familiar, principalmente na figura materna! Lembram que falei AQUI sobre a vontade de liberdade feminina e que por querermos estar no mercado de trabalho, gerarmos frutos financeiros acabamos deixando de lado o cuidado com a educação dos nossos filhos. Não existe super mulher com super poderes capaz de suportar doze horas de trabalho, chegar em casa confiscar lição de casa, estudo, cuidados com o marido, cuidados com a casa e ainda manter perna depilada, raiz em dia e cutícula tirada. O dia tem vinte e quatro horas!
Olhar meninas falando palavrões me faz pensar no que quero para a minha filha. De verdade. Elas não xingam, elas elogiam com palavras feias. O palavrão leva a vulgaridade, isso é fato!
Meu post é uma reflexão do que queremos e estamos fazendo com o futuro dos nossos filhos. Não estou aqui julgando quem fala palavrões, longe disso … estou apenas pensando que crianças já proferem palavras com sentidos e significados tão fortes, tão pesados, tão pornográficos sem muitas vezes não saber nem do que estão falando!
Lembro-me que quando era pequena eu tinha uma amiga –mais nova do que eu- que tudo o que acontecia ela falava “orra”… um certo dia em casa, minha mãe falou alguma coisa que me chamou a atenção e eu rapidamente falei “orra”! Meu Jesus, quase levei O tapa na boca! Minha mãe simplesmente não se cabia de indignação, tristeza, decepção. Passaram muitos anos para eu entender que “orra” era um pequeno diminutivo de uma coisa muito sexual! Quando isso aconteceu eu tinha uns oito anos e minha amiga seis … pera lá, SEIS anos e com certeza ela não tinha a menor noção do peso da expressão que ela usava!
É isso que me refiro … é uma infância que já está presa dentro de casa, em muitos casos passa o dia inteiro na escola, vai e volta de condução, tem apenas algumas poucas horas com a mãe e o pai! Será que é isso que queremos e devemos fazer para nossos filhos?! Não saber com quem anda e como anda; o que fala e com quem fala; como é e como está.
Eu fui descendente da Geração Coca-Cola, muitas mamães que me leem são A Geração Coca-Cola, mas com tantas restrições aos refrigerantes lanço aqui um novo movimento … vamos criar a Geração Suco Natural, onde existe carinho, nós plantamos e nós colhemos, nós cortamos e nós fazemos o suco, nós adoçamos e nós bebemos! Tudo bem pertinho! E aí, vamos começar?!

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