Preciso começar esse texto confessando que de várias coisas que eu já pensei, sonhei, planejei e devaneei nesta minha vida, contar para Sophia que ela seria promovida a irmã mais velha nunca esteve entre elas. Juro. Embora já tivesse imaginado a possibilidade de ter outros filhos, como contar para minha primogênita que ela teria irmãos não passava pela minha cabeça. Foi tipo quando meu pai olhou para mim e perguntou como eu iria estudar sapos e lagartixas na faculdade de biologia que um dia pensei em cursar. 

A descoberta da gravidez foi numa sexta-feira à tarde, já era quase de noite. Graças a Deus eu não tinha aula da pós graduação naquele final de semana. Toda sexta a Gatoca tem aula de teatro, então só buscamos ela por volta das 20h. Entre a descoberta, processar e entender tudo o que estava acontecendo foram algumas horas. Mas sabia que precisava fazer algo especial para ela. Era um momento único. Mesmo com a cabeça a mil, eu precisava pensar em algo com muito amor e carinho, mesmo não tendo espaço criativo no meu cérebro para isso. 

Foram em poucos minutos que a ideia veio à cabeça. Qual a série favorita da Sophia e que tinha acabado de estrear no streaming? Sim, Stranger Things. Tudo era Hellfire Club. Olhei pro Ramon e falei: vamos ao shopping, compramos a camiseta do Eddie (own!) e dizemos que foi presente do bebê. Onde encontrar a camiseta? Lembrei da Piticas e que tinha um quiosque no ParkShopping Barigui. Coooorre pro shopping. Anda anda anda, procura procura procura e descobrimos que fechou. Corre em lojas de fast fashion e nada de Stranger. O tempo estava acabando, já eram 19h10. Entro no Google e pesquiso onde tem Piticas mais perto: Shopping Curitiba. O maps avisa que o trajeto até lá leva 16 minutos. Ida + compra + volta = dá tempo. Pega o carro, vai pro outro shopping. Procura um lugar para estacionar. Tem vaga para gestante na frente da porta de entrada. Entramos, caminhamos procurando a loja e o quiosque é no primeiro piso. Peço a camiseta. Ainda não chegou às lojas. Vejo um moletom do time de basquete do Lucas. É esse mesmo. Peço para presente. Queria escrever algo, mas não sabia o que escrever. Peço ajuda pro Ramon e ele diz “a criativa da família é você”. Peço um papel pra moça, um post-it e ela não tem. AAAAAAA. A vendedora diz que tem adesivo de/para. Aceito. É minúsculo, mal cabe o nome da Gatoca. Mas é o que tem e vamos lá. Peço uma caneta e escrevo. Agradeço e cooooorre buscar a princesa. Colocamos a sacola no lugar dela no carro. 

Chegamos para buscá-la às 19h58. Coração estava acelerado. Sophia entra no carro. Eu e papis seguimos o ritual habitual de recebê-la no carro. Perguntamos como foi a aula, o teatro, o dia. Ela responde que tudo bem e pergunta o nosso. Respondemos que emocionante, cheio de aventuras. Pelo retrovisor a gente viu que ela viu a sacola da loja e o olho brilhou. Ramon diz que é para ela e que pode abrir. Ela pega, olha desconfiada, se enrola para abrir para gerar um engajamento (coisa de adolescente). Vê que é o moletom, fica feliz. Muito feliz. Aviso que tem um bilhetinho no pacote, ela lê o adesivo: “De ♥ / Para Mana + velha”. Dá uma risadinha e fala “valeu pessoal, obrigada”. Respiro fundo e digo que ela não tem que agradecer a gente, afinal, o que estava escrito no bilhete? Ela complementa “tenho que agradecer ao Marvel e a Capitã então?” e eu já não segurando o choro respondo “nãããão”. Bateu o silêncio. Todos respiram fundo e ela solta “Você tá grávida?” e eu digo “Siiiiim”. Todos choram no carro. Eu e papis tentamos contar o que é impossível contar naquele momento. 

No caminho para casa, ela perguntou se já sabia se era menino ou menina. A gente explicou que não sabíamos de nada, só que tinha um bebê na minha pança. Ela perguntou se já tínhamos ideias de nome e respondemos que não. Foi então que três, cinco minutos depois que ela soube que seria irmã mais velha, veio a frase “se for menino, poderia ser Raphael, né?”. Naquele momento a gente não tinha noção de nada, e só colocamos a sugestão na “caixa de sugestão de nomes possíveis”, assim como se ela tivesse sugerido “Maria, João, Ana”. Até então eu pensava que era no início da gestação, com aquele possível tempo de fazer exames e não saber o sexo biológico e que sim, seria outra menina. 

Nós ainda não tínhamos chegado em casa, mas a gente só queria abraçá-la e sentir que para ela estava tudo bem. Nossa, como foi bom abrir as portas e ali na garagem do prédio receber o amor mais lindo e puro do ser mais importante das nossas vidas. Subimos as escadas conversando ainda sem acreditar que aquele assunto era real. Entramos no apartamento desviando de cachorros, soltando bolsas e mochilas e não aguentando dar tempo de tirar as máscaras e lavar as mãos. Eu precisava sentir que minha Gatoca, meu frutinho, minha menina estava bem. 

Imagino que não tenha sido fácil, para nós pais não foi. Em cinco minutos ela precisou saber que amadureceu. Ganhou uma responsabilidade: ser irmã mais velha! Alguém iria vê-la como um exemplo, como um espelho. Me lembro quando olhava para minha irmã e achava ela O máximo (ainda acho!). Ela sabia fazer tudo. E ela era brava, brigava, falava forte. Mas sempre me abraçava, brincava comigo e conversava com uma certa sabedoria, muitas vezes de quem fez e se deu mal. “Má, vai por mim, eu fiz e quebrei a cara”, ela dizia e me abraçava. Chamávamos de atos maduros – fãs das Doug Funnie entenderão. Agora Sophia será essa mentora. Ela terá um pequeno ser para ela cuidar, ensinar, proteger. E ela amou! 

Agora estamos os quatro em fase de aceitação. Sim, a ficha ainda não caiu. Acho que quando começar a fase que todos sintam e vejam o bebê mexer, comece a ser mais real. Aliás, aceito dicas de recém gravidinhas sobre as novidades do universo baby. Meu último parto foi na década passada! Hahahah