QUERER 1 Sentir vontade de; ter a intenção de. 2 Almejar, ambicionar, anelar por, desejar. 3 Exprimir o ato psicológico e formal da vontade; mostrar decisão. 
PODER 1 Ter a faculdade ou possibilidade de. 2 Ter autoridade, domínio ou influência para. 3 Ter força, influência ou alimento. 
Retirado do Dicionário da Língua Portuguesa Michaelis online 
Peguem suas pedras, preparem seus estilingues, mirem na minha cabeça … vai, dou tempo para vocês apontarem e lançarem as pedras para o que vou lhes dizer: na maternidade querer não é poder! 
Tenho visto um manifesto nas redes sociais sobre culpa e, já vi algumas mamães apoiando o manifesto e algumas mamães que torcem o nariz para os assuntos abordados na campanha. Acho muito legal poder acompanhar esses dois lados, das mamães “liberais” e das mamães “radicais”, sempre aprendi muito com todos esses lados, seja aprender o que fazer e aprender o que não fazer … mas eu aprendo! 
Daí que tenho visitado alguns blogs e tenho me deparado com uma situação que me fez parar e pensar: percebi que a maioria dos posts que trata de escolha do parto, desmame, desfralde, deschupetamento (será que existe essa palavra?!), troca de cama, colocar na escola, trabalho e alimentação tem um certo ar de, como posso dizer, cuidados com a maneira de agir e, principalmente de compartilhar, com medo do que as outras mamães da blogosfera irão pensar! Estou certa ou estou errada?! 
Já vi posts sobre partos onde a mamãe conta o sublime momento em que recebeu em seus braços o presente mais perfeito que Deus pode dar, incluindo detalhes sobre a saída de casa, chegada na maternidade, preparação para o parto, entrada no centro cirúrgico, companheiro ao lado, choro do bebê, pose para foto, exames de rotina enquanto os médicos suturam a mamãe que chora de alegria … mas no final, bem lá na última estrofe a mãe lamenta que não foi possível parto normal. Pra que lamentar que não fez parto normal?! O que faz você ser um ser humano pior por não ter desejado, consigo ou mesmo querer passar horas sentindo dor?! Ué … você tem desejos, vontades e isso é uma coisa que somente você pode escolher! 
Já vi posts sobre amamentação onde a mamãe conta que foram seis, sete, oito meses maravilhosos e um dia, com o stress do retorno ao mercado de trabalho o leite começou a secar e o mundo acabou porque o vínculo mamãe e bebê acabaram e que agora ele estaria sendo alimentado por outra pessoa, afinal, além de não ter mais leite ele teria que ficar com uma babá, com a avó ou numa escola! Pra que lamentar que você voltará a exercer sua profissão que tanto ama?! O que faz de você uma péssima mulher querer trabalhar fora depois de ter um filho?! Você fez quatro ou cinco anos de faculdade, especialização, cursos e mais cursos para conseguir aquele tão almejado emprego para jogar tudo fora?! 
Já vi posts sobre a escola ideal, sobre metodologia de ensino e qual a melhor forma de socialização infantil. Waldorf, Piaget, construtivista, montessoriano, entre outros … críticas ácidas sobre as escolas que não estão na lista das TOPS das mamães, mas lá está a mamãe, desejando uma escola cada vez mais humana e solidaria e todos os dias nos shoppings, almoçando e jantando fast-food. 
Já vi posts sobre tantas coisas que não combinam, mas nem por isso, eu pego as pedras e lanço sobre as decisões, sobre as escolhas, sobre as vontades, sobre os desejos, sobre a maternidade que acontece na vida de cada mamãe. Já falei algumas vezes aqui blog que se eu visito um blog e não gosto do estilo da blogueira de escrever ou se as ideias de maternidade não são da maneira que eu gosto, simplesmente saio e não entro mais! Já fiz post aqui no blog revoltada porque alguém decide entrar num blog materno, ler um post feito com amor e carinho e fazer um comentário dizendo que aonde já se viu a mamãe ter coragem de postar fotos de uma filha tão feia! 
Dias atrás vi uma mamãe amiga fazendo post porque alguém também vai, entra, visita, lê e “perde tempo” fazendo comentários maldosos. PRA QUE?? 
O pior, e o que mais tem me entristecido é que tenho notado que a blogosfera materna é que está se atacando e se matando. Eu não posso dizer que fiz uma cesariana porque eu não estava afim de passar dez, doze, vinte horas em trabalho de parto esperando dilatação total para um parto normal, eu tenho que fizer que infelizmente não consegui; Eu não posso dizer que não amamentei, que não sabia, que não consegui e, naquele momento também nem tentei amamentar minha filha e por isso eu sempre dei leite em pó, eu tenho que dizer que foi difícil e que infelizmente não consegui; Eu não posso dizer que odiei passar o dia inteiro em casa, apenas eu e minha filha e que, por isso e mais um monte de coisas, incluindo dinheiro, eu achei melhor voltar ao mercado de trabalho e colocar minha filha na escola, em tempo integral. 
Eu queria ter tido um casamento lindo, uma casa própria muitíssimo bem decorada, com um suporte familiar fantástico, uma gestação planejada, amada e desejada aonde todos estavam radiantes com a notícia de um bebê; o parto dos sonhos, amamentação linda, noite de amor e dias de glórias … eu queria, quando eu tinha quinze ou dezesseis anos e comecei a namorar. Eu queria ter namorado, me formado, trabalhado, casado, viajado, planejado engravidar, ter minha filha, curtir o momento e ser feliz … eu queria, quando eu tinha uns vinte anos e comecei a conversar sobre casamento com o namorado. Eu queria e desejei … e nada aconteceu! 
Adoro conhecer blogs aonde tenham posts com maternidade real, daquelas com dificuldades, daquelas que falam de noites mal dormidas, daquelas que falam de sonhos e desejos, daquelas que pensam de um jeito e tudo acontece ao contrário! Agora deixa eu recolher umas pedrinhas que estão caídas perto de mim e fazer um castelo bem bonitinho! 
“Pedras no caminho? 
Guardo todas, um dia vou construir um castelo…”
 Pedras no caminho, Fernando Pessoa