Quando eu era criança (período que compreende os 5 aos 12 anos), eu e minhas amigas (Lu, essa é pra você), brincávamos de “com a gente mesmo”. Essa brincadeira é a popularmente conhecida como “casinha”, mas a gente achava esse nome feio e infantil, então renomeamos a brincadeira. Para quem não a conhece, eu vos apresento: a brincadeira das meninas, que ainda são crianças, é fantasiarem que já tem seus 16,17 até 25 anos (mais do que isso é ser velha) e “viver” uma rotina fictícia de que é uma mulher bem sucedida: rica, bonita, casada, tem filhos, possuem o emprego perfeito e sem nenhum tipo de problema.
Quando chegamos com Sophia em casa, me deparei com uma realidade bem diferente daquela que eu brincava, havia um bebê que se mexia, chorava, tinha fome e precisava que trocassem suas fraldas sujas. Na minha brincadeira de “com a gente mesmo” não tinha isso, o bebê ficava parado, imóvel, sem emitir nenhum som durante toda a brincadeira. Na hora que a gente cansava dessa vida de “gente grande” era só brincar de outra coisa, na vida real, eu mal tinha tempo para tomar banho e lavar os cabelos. Como é difícil ser adulto.
A Sophia chorava pouco e dormia bem, o difícil era o horário que ela ia dormir. Ela tirava um cochilo por volta das 21 horas e acordava para mamar meia noite e pouquinho, e depois dessa mamada ficava acordada. Era justamente o horário que eu não me agüentava em pé e não tinha quem ficasse com ela, todos que estavam em casa precisavam dormir porque acordavam cedo para trabalhar. O Ramon não conseguia ficar 15 minutos com ela no colo porque transpirava de calor e nervosismo, então eu ficava com ela, deitada na cama com um olho nela, o outro fechado. Minha mãe a pegava no quarto depois da mamada das 8 da manhã para eu dormir.

Sempre fui muito preguiçosa, e sono para mim é meu pavio. Se durmo pouco, o pavio fica curto e a paciência também. Quando me vi com um bebê, me desesperei pelo fato de que eu não tinha mais sono próprio, eu dependia do sono da Sophia para dormir. Mas não pensem que quando ela dormia durante o dia eu dormia junto. Não, eu fui uma mãe muito monga nos primeiros meses, não dormia porque tinha medo de ela acordar e eu não ouvir ou que ela podia morrer dormindo, olha que bobice. Então eu ficava o dia inteiro olhando ela.
Fui instruída pelo pediatra e pelas enfermeiras do hospital, amamentar Sophia a cada três horas. Então havia uma rotina a ser seguida. Vamos fingir que são nove horas da manhã e Sophia chorou pela primeira vez.

*Trocava a fralda;
*Dava seio direito por quinze minutos;
*Oferecia o seio esquerdo por quinze minutos;
*Fazia o complemento de 90 ou 120 ml de leite;
*Momento em que fazíamos Sophia arrotar;
*Abraços, beijos e ela dormia.

Nesse ritual, eram aproximadamente uma hora, uma hora e meia. Quando eu parava para fazer alguma coisa por mim, já eram 11horas e 20minutos e Sophia já choramingava, e a rotina começava toda novamente. Então o que eu fazia: ficava olhando para ela. Se estivesse dormindo, davam as três horas desde o início do ritual, e lá vai a mamãe fazer tudo novamente. E assim foram por dois meses, que foi o tempo que amamentei. Depois o leite que já era pouco, secou e ficamos só no leite em pó. Daí começamos a ver que a fome da Sophia era maior que três horas, então começamos a esperar que ela pedisse o leite.
Sobre a amamentação, eu tive pouco leite desde que Sophia nasceu. Existem aí algumas coisas que penso quando lembro do período em que amamentei que podem ajudar a explicar meu pouco tempo de leite. 1°: minha vida inteira ouvi minha mãe falando que ela não teve leite, o máximo que conseguiu amamentar foi por 15 dia. Mas isso não foi somente ela. Minhas tias e minha avó também não tiveram leite. 2°: durante todas as mamada, nunca estive sozinha com Sophia, sempre havia uma certa movimentação na hora da amamentação, o Ramon, meus pais, minha irmã, minha sogra, minhas amigas. Não estou reclamando, mas lendo a respeito, muitos médicos e psicólogos dizem que ambientes “estressados” podem diminuir a produção de leite da mãe.
Assim que meu leite secou, procurei meu ginecologista e ele disse que não havia o que fazer, que os anticorpos que precisavam eu já havia passado para Sophia. O pediatra disse que podia ter sido por mais tempo. Eu me chateei ao ver que não tinha mais leite, era uma sensação muito gostosa saber que você é tão importante para aquela pequena vida que até o alimento dela é você quem fornece. [Leia mais sobre a Amamentação].

Não vou negar, os primeiros momentos foram difíceis. O sono, a falta ou a perda dele, assim como o medo com o novo me fizeram crescer e amadurecer muito, em curto espaço de tempo. Para quem estava acostumada a chegar em casa, ir direto para o quarto, ligar televisão, computador e som, tudo ao mesmo tempo, e ficar por hooooooras no messenger falando besteira e um certo dia ter seu quarto, seu canto, seu refugio tomado por fraldas, banheira, roupas de bebê e mamadeiras.  Era tanta coisa que precisei tirar o computador do quarto para ter espaço.
Olhando para trás, vejo o quando mudamos. Como é bom sentir falta daquele pequeno amor, que a cada dia cresce mais e mais.
Posso confessar uma coisa? A vida real é bem mais gostosa do que brincando “com a gente mesma”. Desculpa tia Lu!