Quando eu soube que estava grávida, meu mundo simplesmente parou por umas doze horas. Não sei se você já passou por um choque tão grande que o tempo e o espaço param e você é levada pela lei da inércia. Anda, senta, come, olha, toma banho mas na verdade é tudo tão automático que você nem sabe o que está fazendo, tal o choque. Venho de uma família muito tradicional, se assim posso chamar, e o sentido “natural” da vida é: nascer, crescer, estudar, se formar, trabalhar, arranjar namorado, casar e ter filhos, nunca se separar e morrer (nossa, não pensem que sou contra separação, ou que estar casado implica em morrer, mas é que meus avós sempre falaram que separação é muito horrível, e acho que por isso nunca vi meus tios trocando beijos ou parecerem apaixonados).

Quando me deparei com a seguinte situação: 20 anos, namorando, cursando o segundo ano de jornalismo numa faculdade particular e grávida, meu Deus, me perdi! É claro que sonhava um dia casar com o Ramon, mas não agora! Eu vivia um mundo em que eu me casaria, compraria um apartamento no Ecovile (bairro nobre de Curitiba), seria jornalista de moda e trabalharia numa revista bacana e que não me exigisse horas de trabalho, pois seria tão boa que trabalharia em casa ou viajando, com um PT Cruiser na garagem e dinheiro seria um mal necessário! Naquela tarde de outono todos os meus sonhos, planos e desejos “pluft” desapareceram como num passe de mágica. O que eu fiz da minha vida!?!?!?!

Minha gravidez durou 5 meses (descobri no quarto mês) e foram os meses mais intensos da minha vida. Um misto de frustração, medo, descobertas, raiva, rejeição e tantos outros sentimentos que se fundiam numa cabeça tão cheia de pensamentos e tão vazia de experiências. Como fui deixar isso acontecer.

Me lembro que quando o teste da farmácia deu positivo, minha mãe olhou pra mim e perguntou: “Você não reparou que sua barriga aumentou de tamanho?” eu respondi “Não, achei que fosse comida”, ela riu e disse “Óvulo com espermatozóide dá criança, não Big Mac”. É pessoal, eu estava esperando um bebê. Um filho. Como poderia dar certo duas crianças brincando de casinha, ou melhor, de com a gente mesma.

Em todo o processo da gravidez, o mais difícil foi encarar meu pai. No começo, a gente não conversava. Ele nem olhava para a barriga. Foram dias bem complicados. Depois teve todo o processo de como eu e o Ramon iríamos fazer das nossas vidas. Optamos por não casar no primeiro momento, mas graças a Deus hoje completamos 1 mês de casados e está sendo maravilhoso! Quando fomos morar juntos, houveram várias situação que não estavam bem resolvidas. Eu fui morar com ele na casa, a mãe dele foi morar sozinha, a gente morava loooonge pra caramba, mas hoje Deus nos abençoou com um apartamento bem gostoso pertinho do trabalho do Ramon (ele tem um estúdio de ensaio, o O.Z. Sound Studio em Curitiba) e agora com a faculdade que também é perto de casa, estamos bem felizes.

As dificuldades foram enormes. Morar junto, com um bebê pequeno foi uma escola de vida que só quem passa por essa experiência sabe do que estou falando. Aprender a dividir um espaço novo, com alguém que até então passava algumas horas e alguns dias com você é muito difícil. Agora pensa nisso com uma criança. Aprender a ser mulher, esposa, mãe e dona de casa, tudo ao mesmo tempo! Não havia livro, programa de televisão ou vídeo no YouTube que ensinasse que viver uma vida de gente grande do dia para a noite. Dormi menina e acordei mulher.

Os primeiros meses foram hiper difíceis. Passava o dia em casa cuidando da Sophia, fazendo comida e limpando a casa, a noite o Ramon tinha que ir pra faculdade e eu e Sophia íamos para a casa dos meus pais e ficávamos até meia-noite, quando o Ramon nos buscava e íamos para casa que era longe. Com dois meses de casa nova fomos assaltados e levaram todos os nossos eletrônicos, tudo o que comprei com meu dinheiro. Daí vieram as dificuldades financeiras e as brigas porque eu queria e não podia. Voltei a trabalhar. Não foram tempos fáceis.
Mas a gente foi crescendo, aprendendo com as diferenças e com as semelhanças que juntos seríamos mais que vencedores. O Ramon desejou montar o estúdio, como um sonho, onde ele pudesse trabalhar e ter uma fonte de renda, mas por enquanto as coisas estão caminhando a passos lentos.

Sabe aquela história que de quando um fruto cai da árvore antes do tempo, é preciso ter paciência para que ele amadureça? Então, é minha vida. Engravidei antes do tempo, não segui um ciclo “natural” da vida. Agora preciso ter paciência com a vida e esperar que a cada passo dado seja uma nova vitória na minha vida.

E minha vitória é ver o desenvolvimento sadio da Sophia, ver meu lar com muito amor e saber que honramos Deus acima de todas as coisas e somos fiéis a Ele. 

Minutinhos antes de Sophia nascer!
Momento a três!