Jamais imaginei que engravidaria com 20 anos. Foi tudo tão rápido, tudo tão inesperado, descobri no quarto mês de gestação. Não senti enjôo, tontura, náusea, olfato apurado, desejo, nada … absolutamente nada! Tinha que “correr atrás do prejuízo”, trabalhava de segunda a sexta, paramos apenas entre Natal e Revellion e trabalhei até o dia anterior ao nascimento da Sophia.
Não tinha tempo nem $$$$$ para fazer cursos de gestantes. Quando me imaginava grávida, sempre sonhei e desejei fazer cursos, massagens, aprender shantala … mas não pude fazer nada! Nem aqueles cursos oferecido pela maternidade pude fazer.
Sophia nasceu perfeita, sem nenhum problema. Mas e agora … o que fazer?! Eu não sabia trocar fralda, dar banho, amamentar, segurar, fazê-la dormir ou brincar. Se perguntava para minha mãe, ela dizia que “Não lembrava mais nada”; as poucas vezes que conversei com a minha sogra ela também disse que “não se lembrava”. Se bem que foi melhor assim, precisei aprender TUDO na prática.
Trinta e um meses depois vejo que errei muito como mãe. A gravidez foi tão inesperada, tão não desejada que quando me vi “mãe”, me vi completamente perdida. Durante a gestação, foi tudo perfeito, afinal, não havia “quebra” na rotina. A barriga era grande, o peso era um “problema”, era só piscar que dava vontade de fazer xixi e se ficasse quieta por dois minutos, dormia. Ao nascer, Sophia me mostrou um mundo completamente diferente de tudo aquilo que eu conhecia, se bem que eu não conhecia nada sobre maternidade.
Não sabia que eu não teria mais cochilos depois do almoço; ninguém me falou que seria a última a dormir e a primeira a acordar (mentira, a segunda, afinal Sophia me acordaria). Não sabia mais que não teria controle sobre meu corpo nem de meu braço esquerdo conseguiria executar trabalhos dos mais variados, tão bem quanto o direito. Foi difícil entender que nos primeiros momentos eu não teria mais como fazer coisas tão simples na hora que eu simplesmente desejasse: comer, beber, tomar banho, assistir televisão, ir para o computador, dormir, conversar.
Os primeiros meses como “mãe” foram péssimos. Quem sabe eu tenha desenvolvido uma depressão pós parto, mas a situação era tão horrível que inconscientemente eu tenha bloqueado tal situação para não ficar tudo pior. O combinado era que minha sogra deixaria a casa em dezembro e ela só saiu em maio, três meses após o nascimento da neta (esta que ela insiste em não querer que a chame de avó); Morar na casa dos meus pais, eu e Sophia durante esse período, na incerteza se minha sogra sairia e não vendo o Ramon tomar atitudes quanto à isso; Embora nunca tenha sido uma aluna exemplar, se ver privada do estudo também não foi fácil, até hoje sofro quando preciso responder alguma ficha e não sei o que colocar em “profissão”.
Visito alguns blog, e há algum tempo muitas mães escreveram posts relatando o parto. Alguns me fizeram realmente pensar no meu parto. Será que poderia ter esperado mais 1, 2, 6, 10, 12 horas para ter minha filha naturalmente ou foi mais “cômodo” para mim tê-la por uma cesariana?! Embora soubesse que minha filha era grande demais para estar dentro da minha barriga e que havia saído da posição uma semana antes do parto, mas me questionei.
Sabe uma coisa que não tive e sinto falta: chá de bebê! Se me perguntavam se iria fazer, dava a desculpa que “como Sophia nasceria no início do ano, todo mundo estaria viajando de férias então seria difícil”… mentira! Acho que tinha uma certa vergonha de falar que estava grávida! Na época o Facobook ainda era novidade e a moda ainda era Orkut. As pessoas pediam fotos e eu não publicava, claro, eu não tirava. Tenho foto de grávida depois dos 8 meses. Antes disso não tirei nenhuma foto!
Sabem porque estou desabafando tudo isso hoje … porque hoje me vi livre desse “peso” todo que carregava. Carregar Sophia nove meses na barriga não foi difícil; carregar 30 quilos a mais sobre o corpo não é muito fácil, mas carregar o peso da culpa é muito triste.
Estamos vivendo um momento muito difícil na minha família. Meus pais estão se separando e minha mãe e irmã saíram de casa e hoje moram comigo, Ramon e Sophia. Tudo isso me fez pensar o que eu quero para a minha vida, para o meu futuro, para a minha família. E para começar, para dar esse passo tão importante, preciso me “soltar” desse peso chamado CULPA!!!
Culpa por ter engravidado aos 20 anos do namorado; Culpa por ter ido morar numa casa que não era nem nunca foi minha; Culpa por não saber cuidar de um bebê que precisava somente de mim; Culpa por não poder mais viver a minha vida; Culpa por não ter uma profissão; Culpa por não ter o corpo que gostaria; Culpa por ter feito tanta coisa errada na adolescência; Culpa por não ter força de vontade de começar o regime hoje e precisar deixar para segunda-feira; Culpa por sentir culpa da vida não ser como eu sonhava, desejava, queria.
AI … passou! Tirei alguns quilos de culpa das minhas costas, da minha vida, da minha mente, do meu coração.
MINHA princesa Sophia … minha vida!