Quando eu entrei para o mundo da mommysfera, realmente achei que seria a única a ter a ideia de compartilhar as alegrias e frustrações da maternidade real, me enganei! Haviam centenas de milhares de mães espalhadas pelo Brasil e até em outros países dispostas e disponíveis para compartilhar suas histórias.
Fui conhecendo uma ou outra, hoje já conheço duas pessoalmente … a Ju do “Nossas histórias mãe e filho” e a Paty do “Profissão Mamãe!”, mas ao longo desses pouco mais de um ano, fui criando afinidade com inúmeras mães! Algumas a gente “conhece” e gosta pelas histórias dos blogs, a maneira que relata as experiências e como lidar com elas; outras temos como uma “inspiração” e começamos a admirá-las … quem sabe elas nem saibam da nossa existência, mas nós sabemos que elas existem; algumas outras mamães “surgem” na nossa vida e a empatia nasce! Não sei se pelo nome da mamãe ou do frutinho, pela foto do perfil ou pela influência que ela exerce na mommysfera, mas algumas mamães acrescentam demais e nasce um sentimento inexplicável … um desejo de ser amiga, daquelas de trocar email, figurinhas e papeis de carta!
Quando fui convidada para ser Embaixadora do DIA DO DESAFIO do Recanto das Mamães Blogueiras, pude conviver –virtualmente- com mamães ainda “desconhecidas” para mim, e uma delas foi a Isabella do blog liiindo Para Beatriz! Não tive a oportunidade de falar isso para ela, mas declaro aqui publicamente … nasceu um amor e uma amizade que espero não perder jamais! Depois no Twitter me surpreendi com seu nickname @mãdemerda e pensei … “Que tipo de mãe é essa que se auto intitula algo que tenho certeza que não é?!” … pois bem, precisei saber mais da vida dessa mamãe que hoje, mais do que nunca não é e nunca será uma mãe de merda!
Por isso convidei a Isabella para tomar um chocolate quente bem gostoso aqui no Mon Maternité e poder assim, conhecer um pouco mais da vida dessa menina que como eu, só descobriu a gestação lá nos finalmente!
Venham todas, sentem-se e sirvam-se de histórias e emoções!
Obrigada Isabella querida por aceitar o convite … saiba que foi um prazer enorme tê-la aqui na minha casinha! Hoje, entendo porque amei você e sua Beatriz!
Sou Isabela Kanupp tenho quase 22 anos e sou mãe da Beatriz de 2 anos e 6 meses.
Vim aqui a convite da Marcella   para contar sobre mim, a minha vida, e tudo mais.
Para mim tem uma diferença entre existir e viver, e creio que a minha vida se deu início em Janeiro de 1991. Recomecei a viver três vezes, e quase  tantas outras.

A primeira vez que ganhei a vida, foi  no dia 03 de Junho de 1990 na Maternidade de Campinas (Sp) através de uma cesárea, com 3kgs e tantos e 40 centímetros.

Creio que eu tenha sido muito paparicada, meu irmão era todo orgulhoso de mim.

Em meio a esse tempo (1990 a 1991) um belo dia eu fiquei roxa no braço do meu pai, e depois de levarem a muitos médicos descobriram que eu era cardiopata e precisava de uma cirurgia urgente, foi ai que eu quase morri.

Meus pais não tinham condições de pagar, e na época, o SUS era mais precário ainda. Então uma médica de um hospital aqui de Campinas conseguiu um encaixe para mim no hospital Sírio Libanês, em São Paulo. Hospital caro, mas atenderam meus pais de graça.
Foi ai que conheci a pessoa que me deu a vida pela segunda vez: Dr. Miguel Barbero Marcial.

Que se comoveu com a história e conseguiu me encaixar como um caso da equipe dele no Incor, tudo de graça.

A cirurgia foi marcada para Janeiro de 1991, eu com 7 meses de vida.

No dia, quando a equipe médica “ me abriu” viram que o problema que eu tinha TGV (transposição dos grandes vasos) não era tão simples quanto eles imaginavam, pois tinha o agravante de mais um problema CIV (Comunicação Intra Ventricular), ali eles realizaram uma cirurgia complicada, delicada e na época inédita, e eu fui parar em livros de medicina!

Eu tinha 20% de chances de vida, e se mesmo isso acontecesse teria seqüelas por toda a vida.
Um dia, eu estava com marcapasso externo e de acordo com toda a equipe médica eu teria de colocar um interno e viver com aquilo a vida toda, e eu tirei ele e eu sobrevivi. Ali, na frente de todo mundo.

Fiquei 60 dias no Incor, morando lá.
Depois tive de ir todo mês até os 7 anos de idade fazer acompanhamento lá, e então, tive alta.

Tive uma infância quase normal, comia de quase tudo, brincava de quase tudo, e levava uma vida dentro da normalidade. Tinha amigos, imaginários e reais, brincava na rua com meu irmão, tinha bonecas, fazia arte, e tudo que uma criança faz.

Aos 11 anos eu estava sozinha em casa com a minha mãe, e ela faleceu. E eu quase morri junto.
Deixei para trás a minha infância, boa parte dela, além das bonecas e amigas, agora eu tinha de ajudar meu pai, eu tinha de aprender a cozinhar, eu tinha de viver sem mãe para amarrar meu cabelo.

Tínhamos uma vida confortável, carro, casa própria, empregada, era bem bacana para o padrão da época. No tempo que convivi com a minha mãe, ela me educou muito bem, nos ensinou valores preciosos, o exemplo que eu tive dentro de casa determinou quem sou hoje.
Mas aos 15 anos eu conheci outro mundo, que não me arrependo, eu entrei na fase de rebelde sem causa, eu saia na sexta e voltava na segunda, meu pai casou pela segunda vez, eu estourei dois cartões de crédito e ganhava uma pensão gorda do governo. Ou seja, era o combo para todas as merdas possíveis acontecer. E aconteceu bastante.

Digo que conheci pessoas que tiveram total influencia no que sou hoje, no lado positivo e negativo. Não nego, aprendi muito, cresci muito, vivi muito, viajei muito e experimentei todas as loucuras que se possa imaginar.

Descobrimos que meu pai tinha mal de Parkinson, mas estava no início e ele começou a tratar, porém a cada dia que passava ele precisava mais e mais de ajuda.
Minha adolescência teve tudo que tinha direito, eu conheci, eu explorei, eu fiz tudo o que tive vontade e quase deixei meu pai pirado.

E foi ai que minha avó materna descobriu ter câncer, minha segunda mãe. Dos conselhos mais malucos e sensatos ao mesmo tempo, e ela veio a falecer. Eu fui morrendo mais e mais aos pouquinhos e deixando literalmente, a vida me levar. Sem pensar no futuro, e eu sempre tive um lema: se nada der certo, aos 25 eu engravido.

Eu sempre tive a certeza que a única coisa que me faria por os pés no chão, seria ter um filho.
Tive alguns namorados, algumas paixões duradoras, muitas confusões e em 2008 eu conheci uma pessoa que eu já conhecia, mas não tão bem. Comecei a namorar e com 7 meses de namoro meu marido veio morar em casa, a convite meu e do meu pai.
Engravidei.

Eu não queria e queria. Eu queria ser mãe, mas em um futuro distante. Meu marido era músico, a gente vivia viajando para shows, eu tinha meu pai que apesar de tudo demandava muito ajuda, e ali não era a hora.

Mas aceitei.

No primeiro ultrassom descobri que eu já estava com 5 meses de gravidez.
Correria para comprar tudo, para colocar a mente no lugar e nesse tempo já tínhamos acostumados com a ideia.

Fiz meu pré natal no SUS, queria um parto normal, não quiseram meu caso e falaram que só fariam um parto normal com autorização de todos meus cardiologistas particulares. Corri atrás, gastei mais grana com médico do que com enxoval, e em uma conversa franca com meu médico eu ouvi o seguinte: “ Coloco aqui nesse papel o que você quiser, mas eu como médico, como seu médico desde que começou a acompanhar aqui em Campinas, eu digo que não temos como saber, não há nenhum caso como o seu, todos os outros casos são mais novos que você, cirurgias mais modernas, e ninguém teve filho para saber se sua válvula artificial agüenta ou não agüenta, pode agüentar você ter um parto lindo, ou você pode não agüentar”.

Decidi pela cesárea. Eu queria criar minha filha, eu queria educar minha filha, e a forma como ela viria ao mundo naquela minha situação não importava tanto.

Beatriz nasceu no dia 19 de outubro de 2009, com 4 kgs e 90. E então eu comecei a viver pela terceira vez. Não só como mãe, como mulher, como humano, como um cidadão com pensamentos totalmente diferentes do que eu tinha antes. E eu tinha 19 anos.


Os três primeiros meses foram difíceis como na maioria dos casos, cólicas, noites em claro, adaptação da nova rotina.

Depois eu encarei com mais leveza, com mais tranqüilidade.
Não tinha com quem dividir minhas dúvidas, criei um blog. Criei de início porque precisava compartilhar, desabafar, e porque eu sempre tive medo de morrer e o blog seria uma forma de deixar ali registrado para a Beatriz tudo o que eu sentia, o que eu acreditava, minhas opiniões.
Escrevia para as paredes, e para meu irmão que lia. Para o marido que lia. Para a sogra.  E depois os amigos, e indicaram para outros amigos. E eu peguei o gosto por algo que eu já tinha, escrever.

Fiz muitas amizades, um tanto de inimizades, aprendi a escrever sobre o que eu acreditava e encaixando isso no contesto da maternidade. Minha opinião é a minha opinião, muitas pessoas são contra, mas eu sou assim… eu não nego.
Declarei guerra, declarei minha opinião, declarei ali meu amor pela Beatriz, pela descoberta da maternidade e enfim descobri quem eu realmente era. Tantos anos para deixar de existir e começar a viver.
Educo a Beatriz de acordo como fui educada, pelo exemplo. Muitas das coisas nas quais não concordo com as atitudes que meus pais tiveram eu descarto, vou testando, aprendendo, errando, e não tenho medo de errar. Eu sei que eu aprendo todos os dias.
Em 2010 tive o prazer de conhecer a pessoa que me deu a vida pela segunda vez, o Dr. Miguel Barbero Marcial. Em uma homenagem pela sua aposentadoria, com direito a entregar placa de agradecimento e tudo.

Hoje a Beatriz tem 2 anos e 6 meses e me ensina muito mais do que muitas pessoas que passaram pela minha vida.
Não tenho como terminar esse texto, minha vida não acabou e tenho certeza que irei quase morrer e viver tantas e tantas outras vezes.
E isso foi só um resumo.
Álbum de LINDA família!