#FATO indiscutível: nós (eu e princesa) não seriamos NADA nem NINGUÉM sem a vovó cuidando da gente! E olha que já me irritei demaaaaaais com ela! E hoje posso vir publicamente e aproveitar a oportunidade diante do mundo inteiro para dizer: mamãe, me perdoa?!?
Quem acompanha o Mon Maternité já deve ter lido algumas vezes que quem descobriu minha gravidez foi a minha mãe! Ela perguntou sobre possíveis relações sexuais com o marido (na época namorado) eu confirmei e ela me pediu para levantar a blusa. Na hora que colocou a mão na minha barriga ela falou “Meu Deus, tem uma criança de uns três meses ai dentro já!”  … nooossa, nada a ver, uma criança de três meses dentro de mim, absurdo, calúnia! Tinha uma princesa de quatro quase cinco meses escondida embaixo de muito tecido adiposo!
Ela nunca brigou, condenou ou criticou. Chamou a minha atenção porque se mantinha relação com o namorado, provavelmente era na casa dele e isso sim ela não admitia desrespeitar a casa dos pais dele! Claro que como toda adolescente eu contra argumentei alegando que a casa era do namorado, mas isso não ajudava em absolutamente nada!
A rápida gestação foi de muito carinho –da parte da minha mãe e trabalho! Claro que em nenhum momento ela vinha fazer carinho na barriga e conversar com Sophia, mas ela estava ao meu lado em todos os momentos. Não tinha tempo ruim, saía e comprava tudo aquilo que era necessário e que estava ao nosso alcance. Não faltou nada para a primeira neta da vovó!
Na hora do parto, ela não estava preocupada com Sophia, estava preocupada comigo e com o meu bem estar, só ficou tranquila quando me viu no quarto! O amor que tem pelas filhas foi unido e transformado num amor tão mais puro, sem limites, incondicional e eterno por uma pequena princesinha chamada Sophia!
Eu “errei” em ter engravidado antes do tempo, ainda faltava muito tempo para minha árvore amadurecer e dar frutos saudáveis, mas resolvi dar esse fruto antes do tempo … mas em cinco/quatro meses eu amadureci o que levaria anos e fazer de tudo para que o fruto nascesse perfeito, e acho que deu certo né?!

Vovô já foi mais frio durante a gestação, mas quando viu a princesa pela primeira vez, acho que descobriu o verdadeiro significado do amor! Ele é paciente, brinca de tudo e faz mais um pouco pela felicidade da princesa. Eles até já tem um segredo! Toda vez que perguntamos para a Sophia “Qual é o segredo do vovô?!?” rapidamente ele responde “Que ele me ama!”! Sem falar que se vamos ao supermercado ou shopping e Sophia quer alguma coisa e sabe que eu ou papis não iremos comprar, ela fala “Mamãe, esse tem que pedir só para o vovô né?!” … garota esperta! 


Ano passado usei um texto da Raquel de Queiroz AQUI que não tem como não repetir esse ano e todos os outros anos … essa é minha homenagem a minha mamãe, avó da minha Sophia!
Mas também não tem como falar da minha avó. Há menos de uma semana meu avô faleceu e ainda está tudo muito confuso … o sentimento de tristeza por termos perdido ele com a sensação de que foi melhor, afinal ele ficou muito debilitado com tudo o que aconteceu em cinco dias! Com todos os erros e acertos, é por causa deles que minha mãe existe, eu existo e Sophia existe! Carregamos não somente nos nossos corpos mas como no nosso DNA a herança de uma árvore que deu frutos! Para a minha avó Olívia, meu muito obrigada!
“Netos são como heranças: você os ganha sem merecer. Sem ter feito nada para isso, de repente lhe caem do céu. É, como dizem os ingleses, um ato de Deus. Sem se passarem as penas do amor, sem os compromissos do matrimônio, sem as dores da maternidade. E não se trata de um filho apenas suposto, como o filho adotado: o neto é realmente o sangue do seu sangue, filho de filho, mais filho que o filho mesmo… Quarenta anos, quarenta e cinco… Você sente, obscuramente, nos seus ossos, que o tempo passou mais depressa do que esperava. Não lhe incomoda envelhecer, é claro. A velhice tem as suas alegrias, as suas compensações — todos dizem isto embora você pessoalmente, ainda não as tenha descoberto — mas acredita. Todavia, também obscuramente, também sentida nos seus ossos, às vezes lhe dá aquela nostalgia da mocidade. Não de amores nem de paixões: a doçura da meia-idade não lhe exige essas efervescências. A saudade é de alguma coisa que você tinha e lhe fugiu sutilmente junto com a mocidade. Bracinhos de criança no seu pescoço. Choro de criança. O tumulto da presença infantil ao seu redor. Meus Deus, para onde foram as suas crianças? Naqueles adultos cheios de problemas que hoje são seus filhos, que têm sogro e sogra, cônjuge, emprego, apartamento a prestações, você não encontra de modo nenhum as suas crianças perdidas. São homens e mulheres – não são mais aqueles que você recorda. E então um belo dia, sem que lhe fosse imposta nenhuma das agonias da gestação ou do parto, o doutor lhe põe nos braços um menino. Completamente grátis — aquela criancinha da sua raça, da qual você morria de saudades, símbolo ou penhor da mocidade perdida. Pois aquela criancinha, longe de ser um estranho, é um menino que lhe é “devolvido”. E o espantoso é que todos lhe reconhecem o seu direito de o amar com extravagância; ao contrário causaria escândalo e decepção se você não o acolhesse imediatamente com todo aquele amor recalcado que há anos se acumulava, desdenhado, no seu coração.

Sim, tenho certeza que a vida nos dá os netos para nos compensar de todas as mutilações trazidas pela velhice. São amores novos, profundos e felizes que vêm ocupar aquele lugar vazio, nostálgico, deixado pelos arroubos juvenis. Aliás, desconfio muito de que os netos são melhores que namorados, pois que as violências da mocidade produzem mais lágrimas do que enlevos. No entanto — no entanto! — nem tudo são flores no caminho da avó. Há, acima de tudo, o entrave maior, a grande rival: a mãe. Não importa que ela , em si, seja sua filha. Não deixa por isso de ser mãe do garoto. Não importa que ela, hipocritamente ensine o menino a lhe dar beijos e a lhe chamar de “vovozinha”, e lhe conte que de noite, às vezes, ele de repente acorda e pergunta por você. São lisonjas, nada mais. No fundo ela é rival mesmo. Rigorosamente, nas suas posições respectivas, a mãe e a avó representam, em relação ao neto, papéis muito semelhantes ao da esposa e da amante dos triângulos conjugais. A mãe tem todas as vantagens da domesticidade e da presença constante. Dorme com ele, dá-lhe de comer, dá-lhe banho, veste-o. Embala-o de noite. Contra si tem a fadiga da rotina, a obrigação de educar e o ônus de castigar. Já a avô, não tem direitos legais, mas oferece a sedução do romance e do imprevisto. Mora em outra casa. Traz presentes. Faz coisas não programadas. Leva a passear, “não ralha nunca”. Deixa lambuzar de pirulitos. Não tem a menor pretensão pedagógica. É a confidente das horas de ressentimento, o último recurso nos momentos de opressão, a secreta aliada nas crises de rebeldia. Uma noite passada em sua casa é uma deliciosa fuga à rotina, tem todos os encantos de uma aventura. Lá não há linha divisória entre o proibido e o permitido. Dormir sem lavar as mãos, recusar a sopa e comer croquetes, tomar café — café! — mexer no armário da louça, fazer trem com as cadeiras da sala, destruir revistas, derramar a água do gato, acender e apagar a luz elétrica mil vezes se quiser e até fingir que está discando o telefone. Riscar a parece com o lápis dizendo que foi sem querer — e ser acreditado! Fazer má-criação aos gritos e, em vez de apanhar, ir para os braços da avó e de lá escutar os debates sobre os perigos e os erros da educação moderna. Sabe-se que, no reino dos céus, o cristão defunto desfruta os mais requintados prazeres da alma. Porém esses prazeres não estarão muito acima da alegria de sair de mãos dadas com o seu neto, numa manhã de sol. E olhe que aqui embaixo você ainda tem o direito de sentir orgulho, que aos bem-aventurados será defeso. Meu Deus, o olhar das outras avós, com os seus filhotes magricelas ou obesos, a morrerem de inveja do seu maravilhoso neto. E quando você vai embalar o menino e ele, tonto de sono, abre um olho, lhe reconhece, sorri e diz: “Vó!”, seu coração estala de felicidade, como pão ao forno. E o misterioso entendimento que há entre avó e neto, na hora em que a mãe o castiga, e ele olha para você, sabendo que se você não ousa intervir abertamente, pelo menos lhe dá sua incondicional cumplicidade… Até as coisas negativas se viram em alegrias quando se intrometem entre avó e neto: o bibelô de estimação que se quebrou porque o menininho — involuntariamente! — bateu com a bola nele. Está quebrado e remendado, mas enriquecido com preciosas recordações: os cacos na mãozinha, os olhos arregalados, o beiço pronto para o choro; e depois, o sorriso malandro e aliviado porque “ninguém” se zangou, o culpado foi a bola mesma, não foi, Vó? Era um simples boneco que custou caro. Hoje é relíquia: não tem dinheiro que pague.”
A Arte de Ser Avó
Raquel de Queiroz