Conjuntivite alérgica, olho seco e até ceratocone estão entre os problemas que aumentam no inverno. Entenda os riscos e aprenda a proteger os olhos da sua família
A cada ano, o inverno traz um combo já conhecido: céu acinzentado, umidade baixa, nariz entupido, ar pesado. Mas o que muitos ainda não percebem é que, além da tosse e da rinite, os olhos também sofrem – e muito. Ardência, vermelhidão e aquela coceira insistente podem ser sinais de alerta para problemas sérios que se agravam com o clima seco e a poluição, especialmente após episódios de queimadas.
Se você está com olhos ardendo no tempo seco, saiba que não está sozinha. A combinação de inverno, poluição e fumaça das queimadas afeta diretamente a saúde ocular de adultos e crianças, provocando sintomas que vão muito além do incômodo passageiro.
Segundo dados do governo federal, o Brasil registrou uma queda expressiva nas áreas atingidas por queimadas em 2025, com 65,8% de redução em relação ao mesmo período do ano anterior. Mesmo assim, a fumaça residual e os níveis de poluição continuam afetando a saúde da população – especialmente a ocular.
“O número de pacientes com queixas nos olhos aumenta significativamente nesses períodos. Seis em cada dez alérgicos apresentam sintomas oculares, como coceira, ardência, vermelhidão e lacrimejamento”, explica o oftalmologista Leôncio Queiroz Neto. Segundo ele, esses sinais merecem atenção e cuidado, especialmente quando se tornam frequentes.
Conjuntivite alérgica: a inflamação que arde, mas não contagia

A conjuntivite alérgica é uma das manifestações mais comuns nesse período. Trata-se de uma inflamação da membrana que reveste a parte branca dos olhos e as pálpebras. Ao contrário da conjuntivite viral, ela não é contagiosa, mas os sintomas podem ser bastante desconfortáveis:
- Olhos vermelhos
- Coceira constante
- Inchaço nas pálpebras
- Secreção aquosa e clara
“O tratamento costuma incluir colírios antialérgicos ou, nos casos mais graves, medicação oral. É essencial suspender o uso de lentes de contato ao menor sinal de irritação”, alerta o especialista.
Olho seco: quando o corpo para de proteger os próprios olhos
A síndrome do olho seco é outro problema que se agrava no inverno. A baixa umidade e o ar poluído comprometem a produção e a qualidade da lágrima, levando à sensação de areia nos olhos, ardência e até visão embaçada.
Um dos sintomas mais relatados nos consultórios oftalmológicos nesta época do ano é justamente o de olhos ardendo no tempo seco — sinal de que a lubrificação natural dos olhos pode estar comprometida. O tratamento depende do grau de desconforto e pode envolver colírios lubrificantes e, em casos mais complexos, terapias com luz pulsada para estimular as glândulas lacrimais.
Ceratocone: o perigo escondido por trás da coceira
Coçar os olhos com frequência, além de piorar quadros alérgicos, pode desencadear o ceratocone – uma condição que afina e deforma a córnea, levando à perda progressiva da visão.
“O ceratocone é mais comum em adolescentes e jovens adultos e pode ser confundido com astigmatismo. O diagnóstico só pode ser feito por meio de tomografia da córnea”, explica o médico.
Quando detectado precocemente, é possível interromper a progressão com crosslinking, uma cirurgia que fortalece as fibras da córnea. Casos mais avançados podem exigir o implante de anéis ou, em último caso, um transplante.
Conjuntivite viral: o risco que vem com o frio e as aglomerações
Com a queda nas temperaturas e a maior permanência em ambientes fechados, aumenta também a circulação de vírus – inclusive os que causam a conjuntivite viral, altamente contagiosa.
Ela costuma afetar mais crianças e idosos, e seus sintomas são diferentes da versão alérgica:
- Vermelhidão
- Secreção mais espessa e viscosa
- Sensação de areia nos olhos
- Lacrimejamento constante
“O ideal é tratar com compressas frias, lágrimas artificiais e colírios prescritos por um profissional. E, claro, evitar o contato próximo com outras pessoas durante o período de contágio”, reforça o oftalmologista.
Mesmo com menos queimadas, os olhos ainda pedem proteção
Embora o primeiro semestre de 2025 tenha registrado queda no número de focos de calor e áreas queimadas, especialistas alertam que a exposição à poluição residual e à baixa umidade do ar ainda representa risco. Estudos apontam que a elevação de apenas 1 micrograma por metro cúbico no material particulado do ar já aumenta em até 3% o risco de doenças oculares.
Ou seja: mesmo com céu limpo, se você sente olhos ardendo no tempo seco, é importante observar o ambiente, a sua rotina e buscar formas de proteção ocular contínua.
Como cuidar da saúde dos seus olhos (e dos olhos da sua família)
Durante o inverno e períodos de baixa umidade ou fumaça, adotar alguns cuidados simples pode evitar crises alérgicas e desconfortos mais sérios:
- Evite coçar os olhos e lave as mãos com frequência
- Beba bastante água para manter o corpo (e os olhos) hidratados
- Use colírios lubrificantes recomendados por oftalmologista
- Mantenha os ambientes limpos e livres de poeira
- Use umidificador de ar ou uma bacia com água no quarto
- Evite exposição prolongada a ar-condicionado
- Ao sair, use óculos escuros e, se possível, máscara facial
- Dê pausas ao usar telas e estimule o piscar voluntário
- Nunca compartilhe maquiagem, toalhas ou colírios
- Agende consultas oftalmológicas regulares – inclusive para crianças e adolescentes
A gente cuida da casa, da rotina, das crianças, da saúde de todo mundo… e muitas vezes esquece de reparar num sinal que está bem diante dos nossos olhos — literalmente. Aquela coceira persistente, o olho que arde depois do banho, a visão que embaça do nada. Pode parecer bobeira, mas não é.
Se você está com olhos ardendo no tempo seco, não espere piorar para procurar ajuda. Cuidar da visão é cuidar da qualidade de vida. E, convenhamos, enxergar bem é essencial para viver com leveza – seja lendo um livro, assistindo a um filme com os filhos ou simplesmente reconhecendo o mundo à nossa volta com nitidez.