Com a chegada do verão, as atividades aquáticas se intensificam, proporcionando momentos de diversão e lazer para as famílias, mas também pode levar a um relaxamento nas medidas de segurança. Por isso, é crucial estar ciente do aumento significativo nos riscos de afogamento infantil durante essa temporada. 

SUPERVISÃO CONSTANTE, PRINCIPALMENTE EM CASA

Quando falamos desses acidentes com crianças, é fundamental reconhecer que os riscos frequentemente residem dentro do ambiente doméstico. Piscinas, baldes, bacias, banheiras e até o tanque de lavar roupas podem se tornar áreas propensas a incidentes de afogamento infantil. Garantir a segurança desses espaços é crucial para prevenir acidentes e proteger a integridade dos pequenos. 

Segundo informações da OPAS (Organização Pan-Americana de Saúde), os afogamentos causaram mais de 2,5 milhões de mortes na última década. Mundialmente, as maiores taxas de afogamento ocorrem entre crianças de 1 a 4 anos, seguidas por crianças de 5 a 9 anos. A Sociedade Brasileira de Salvamento Aquático (Sobrasa) divulgou o Boletim Epidemiológico de Afogamentos que afirma que no Brasil o afogamento é a primeira causa de morte de crianças com idades entre 1 e 4 anos e, metade desses casos, ocorrem em casa. 

André dos Santos, bombeiro militar há 13 anos e socorrista há 11, explica que nessa faixa etária a proporção da cabeça e do corpo é muito diferente, por isso os pequenos são tão suscetíveis a afogamentos em ambientes domésticos. Como a cabeça é muito mais pesada em relação ao restante do corpo, qualquer quantidade de água já é suficiente para afogar uma criança. “Por exemplo, um balde cheio com roupa de molho na lavanderia fica pesado o suficiente para não tombar se uma criança de 1 ano, 1 ano e meio cair no balde. Como a cabeça dela é mais pesada, ela não consegue sair”, alerta o bombeiro. Além disso, outro fator que agrava os casos é que o afogamento é um acidente silencioso. “Se a criança não está sob supervisão dos pais ou responsável, não consegue escutar a criança se afogando”.

PRAIA, SOL, MAR E ATENÇÃO REDOBRADA

Foto: CBMPR

O Corpo de Bombeiros Militar do Paraná (CBMPR) realizou entre os dias 16 de dezembro de 2023 até o dia 2 de janeiro de 2024, 664 resgates no Litoral do Estado. No mesmo período do ano passado, foram contabilizadas 399 ocorrências, o que representa um aumento de 49%. Marcelo Santos é Cabo do Corpo de Bombeiros do Paraná e está atuando como guarda-vidas nessa temporada no litoral paranaense. Para ele, um dos fatores que facilita situações como o afogamento é a sensação de segurança por estarem em ambientes com muita gente. “Os pais têm a falsa sensação de segurança, por ter mais gente por perto, e acabam se distraindo e perdendo o controle e cuidado com as ações dos pequenos”, afirma. 

Marcelo afirma que as crianças tendem a perder facilmente a referência do local quando estão na praia. “Quem nunca presenciou uma criança perdida na praia? Geralmente tudo começa com uma brincadeira, pular onda, brincar com uma bola, e quando menos se espera a criança pode cair em um buraco ou ser levado por uma corrente de retorno”. Além disso, o Cabo explica sobre um importante item de segurança que pode se tornar uma armadilha: as bóias. “No mar a criança vira praticamente um objeto flutuante, e muitas vezes os pais são surpreendidos por uma correnteza ou um vento mais forte que pode afastar a criança do seu alcance, as bóias de braço muitas vezes tendem a escorregar e cair, então uma melhor opção seria um colete salva-vidas”, garante. 

FIQUE ATENTO

Para que a diversão e o lazer sejam curtidos com segurança, é importante tomar uma série de pequenos cuidados. Por isso, separei algumas dicas para quem quer aproveitar o verão sem sustos.

– Nunca deixe crianças sozinhas dentro ou próximas da água: nessas situações, um adulto deve supervisioná-las de forma ativa o tempo todo;

– Ao entrar na água, faça o uso de coletes salva-vidas, uma vez que bóias de braço são escorregadias e não aconselhadas;

– Ensine as crianças a não correrem, empurrarem e pularem em outras pessoas, tampouco simularem que estão se afogando quando estiverem na piscina, lago, rio ou mar;

– Explique às crianças que nadar sozinhas, sem ninguém por perto, é perigoso;

– Crianças pequenas podem se afogar em qualquer recipiente com mais de 2,5 cm de profundidade, seja banheira, pia, vaso sanitário, balde, piscina, praia ou rio;

– Após utilizar baldes, bacias, banheiras e piscinas infantis, mantenha-os vazios, virados para baixo e fora do alcance das crianças;

– Mantenha a tampa do vaso sanitário para baixo e, de preferência, mantenha a porta do banheiro fechada (principalmente com as crianças menores de 4 anos);

– Deixe cisternas, tonéis, poços e outros reservatórios domésticos sempre trancados;

– Evite deixar brinquedos e outros atrativos próximos à piscina e aos reservatórios de água.

COMO SOCORRER

Marcelo orienta que os tutores devem sempre manter contato visual com as crianças, porque geralmente as situações ocorrem muito rápido. “Todo meio líquido oferece riscos, em caso de acidentes sem guarda vidas próximo, a primeira atitude a ser tomada é ligar para o número de emergência do corpo de bombeiros, 193″. Além disso, ele alerta que deve-se tomar muito cuidado ao tentar salvar ou tirar alguém da água em situações de afogamento.

O guarda vidas aconselha que caso a pessoa tenha em mãos algum material flutuante por perto como um isopor, uma bóia ou uma prancha, por exemplo, ajuda muito para que ao tentar salvar alguém, a segunda pessoa não acabe virando mais uma vítima. “O conhecimento básico de primeiros socorros por parte dos pais é imprescindível, a agilidade em um primeiro atendimento pode fazer toda a diferença para o sucesso de um salvamento”, garante. 

PAIS SUPER HERÓIS 

Pensando no primeiro e rápido atendimento, em 2018 André criou o projeto KidCare. “Percebi a necessidade de ensinar primeiros socorros para os pais, pois em algumas ocorrências crianças foram perdidas pela falta de conhecimento básico em primeiros socorros e prevenção de acidentes domésticos”, explica o socorrista. Além do curso para pais e responsáveis, André oferece capacitação para escolas. 

Foto: Reprodução Instagram @kid.care.prev

Os cursos ensinam técnicas de primeiros socorros que ajudam na prevenção de acidentes domésticos e podem salvar vidas. “Os acidentes são a principal causa de morte de crianças de 0 a 14 anos de idade e cerca de 90% desses acidentes podem ser evitados. Por isso, a prevenção de acidentes e caso a prevenção falhe, os pais vão saber o que fazer para dar o primeiro atendimento e, em muitos casos, salvar a vida dos seus filhos”, afirma André. Os pais aprendem a reconhecer sinais de engasgo e fazer a manobra de desengasgo, realizar curativos e fazer torniquetes no caso de grandes hemorragias, imobilizações de fraturas e fazer a ressuscitação cardiopulmonar (RCP) de alta qualidade nos casos de Parada Cardiorrespiratória. “Às vezes a ambulância demora a chegar e os pais tem que saber fazer alguma coisa, pois já vi alguns casos que o básico em primeiros socorros poderia ter salvado a criança. E por uma infelicidade, algumas vezes quando chegamos para fazer o atendimento foi tarde demais”, conclui. 

SERVIÇO

Kid Care

Instagram

WhatsApp