A endometriose é uma condição médica que afeta cerca de 190 milhões de mulheres no mundo, ou seja, 1 em cada 10 mulheres em idade reprodutiva segundo dados da OMS. No Brasil são mais de sete milhões. Apesar da alta incidência, o diagnóstico ainda é uma grande preocupação, já que a doença é muitas vezes diagnosticada com um atraso médio de 7 a 10 anos, devido à complexidade dos sintomas e à falta de conscientização.
Uma pesquisa conduzida pelo Ibope durante a pandemia, revelou que 82% das mulheres entrevistadas relataram sentir dores frequentemente. Em contraste, entre os homens participantes, essa porcentagem diminuiu para 18%. Uma das condições de saúde frequentemente observadas em mulheres é a endometriose, que pode ser altamente debilitante. Apesar de ter relação com o ciclo menstrual, pode trazer sintomas e incômodos para mulheres de todas as idades, desde a menarca até depois da menopausa.
A origem da endometriose permanece em parte obscura, embora haja indícios de que a combinação de fatores ambientais e genéticos desempenhe um papel significativo. Trata-se de uma condição crônica progressiva, para a qual ainda não existe cura. Especialistas enfatizam a importância do diagnóstico precoce e do tratamento, visto que isso pode resultar em um melhor controle da doença. As abordagens terapêuticas incluem o uso de medicamentos, alterações no estilo de vida e, em alguns casos, intervenções cirúrgicas, com taxas notáveis de resolução do problema.
O mês de março assinala a campanha do Março Amarelo, uma iniciativa dedicada à conscientização sobre a endometriose e à ampliação do entendimento da população acerca dessa condição de saúde.
O que é a Endometriose?
A médica ginecologista Alexandra Ongaratto explica que a endometriose é uma doença inflamatória na qual o tecido que normalmente reveste o interior do útero, chamado de endométrio, começa a crescer fora do útero. Esse tecido pode se fixar em várias áreas da pelve, como os ovários, as trompas de falópio, os ligamentos que sustentam o útero, a bexiga e o reto. Em casos raros, o tecido endometrial pode até se espalhar para áreas fora da pelve.
A característica marcante da endometriose é que, assim como o endométrio dentro do útero, o tecido fora do útero responde aos hormônios femininos (principalmente ao estrogênio) durante o ciclo menstrual. Portanto, esse tecido cresce, engrossa e se desintegra de maneira semelhante ao endométrio, mas não é expelido do corpo como a menstruação normal. “Em vez de serem expulsas na menstruação, elas migram no sentido oposto e cai na cavidade abdominal, o que provoca uma reação inflamatória ali dentro”, afirma. Isso pode levar à formação de aderências, cicatrizes e nódulos, causando dor intensa, desconforto, reações inflamatórias e lesões que podem sensibilizar, inclusive, o funcionamento de outros órgãos.
Principais Sintomas:
A endometriose pode apresentar uma variedade de sintomas, e a intensidade deles pode variar de uma mulher para outra. Alguns dos sintomas mais comuns que podem indicar a presença de endometriose incluem:
Dor pélvica:
Dor persistente na região pélvica, que pode variar de leve a intensa;
Desconforto contínuo ou intermitente.
Dismenorreia (cólicas menstruais intensas):
Cólicas menstruais severas que interferem nas atividades diárias;
Dor durante e após a menstruação.
Dispareunia (dor durante o sexo):
Dor durante ou após a atividade sexual.
Dor ao urinar ou evacuar:
Ao urinar durante o período menstrual;
Durante a evacuação, especialmente durante a menstruação.
Menstruação irregular:
Ciclos menstruais irregulares;
Menstruação com fluxo muito intenso.
Fadiga:
Cansaço excessivo, mesmo após períodos de descanso adequados.
Infertilidade:
Dificuldade em conceber pode ser um sinal, embora nem todas as mulheres com endometriose enfrentam problemas de fertilidade.
Outras Manifestações:
Sangramento entre os períodos menstruais;
Diarréia ou constipação associada à menstruação;
Inchaço ou cólicas abdominais.
É importante observar que a intensidade dos sintomas não reflete necessariamente a gravidade da endometriose. Algumas mulheres com endometriose mínima podem experimentar dor intensa, enquanto outras com casos mais graves podem ter sintomas mais leves. Além disso, algumas mulheres com endometriose podem ser assintomáticas.
Causas:
Alexandra esclarece que as causas não estão bem definidas. “Pode ser genética, possíveis deficiências, alterações do sistema imunológico. São inúmeras teorias”. A médica cita as causas mais aceitas:
Histórico familiar: Mulheres cujas mães ou irmãs têm endometriose têm um risco aumentado.
Menstruação com fluxo retrógrado: Quando o sangue menstrual flui para trás, em direção às trompas de falópio e à pelve, em vez de sair do corpo, pode facilitar o implante do tecido endometrial fora do útero.
Ciclos menstruais curtos: Ciclos menstruais curtos ou períodos menstruais mais longos podem aumentar o risco.
Diagnóstico:
O diagnóstico da endometriose geralmente envolve uma combinação de histórico médico detalhado, exame físico e, em alguns casos, procedimentos mais específicos.
Adolescência: Sintomas que não devem ser ignorados
A endometriose pode surgir na adolescentes logo após a primeira menstruação. Diagnosticar a doença nessa faixa etária é desafiador, pois muitos dos sintomas podem ser confundidos com manifestações normais dessa fase da vida. Dado que a maioria ainda não iniciou sua vida sexual, sintomas como dor durante o contato íntimo ou dificuldade para engravidar não são evidentes.
É crucial não negligenciar os sinais que podem indicar a presença da endometriose em adolescentes, já que um diagnóstico precoce pode significar um melhor controle da condição no longo prazo. Estar atento a sintomas como dores abdominais intensas, desconforto durante o ciclo menstrual e outros indícios atípicos é essencial para garantir que a endometriose seja identificada e tratada adequadamente, mesmo em idades mais precoces.
Menopausa:
A menopausa representa, para algumas mulheres, um período de alívio em relação aos sintomas da endometriose, uma vez que a produção hormonal diminui. Contudo, essa realidade não se aplica a todas. Algumas pacientes ainda enfrentam desconforto pélvico e outros problemas mesmo após a menopausa. Nesse contexto, é imperativo destacar a importância do tratamento contínuo e do suporte médico, visto que a endometriose pode persistir e impactar significativamente a qualidade de vida nesta fase da jornada feminina.
Vivendo com endometriose
Viver com endometriose pode apresentar desafios, mas com tratamento médico e algumas estratégias, é possível melhorar a qualidade de vida e enfrentar a condição de maneira mais tranquila. Aqui estão algumas dicas valiosas:
Busque apoio profissional: Consulte regularmente um ginecologista especializado em endometriose. Profissionais de saúde podem ajudar a gerenciar sintomas e ajustar o plano de tratamento conforme necessário.
Entenda e monitore seus sintomas: Esteja atenta aos sinais do seu corpo. Mantenha um diário dos sintomas para ajudar a identificar padrões e compartilhe essas informações com seu médico durante as consultas.
Adote uma dieta saudável: Opte por uma dieta rica em nutrientes, com ênfase em alimentos anti-inflamatórios. Isso pode ajudar a reduzir a inflamação associada à endometriose.
Pratique exercícios físicos moderados: Atividades físicas podem auxiliar no controle da dor e melhorar o bem-estar geral. Escolha exercícios de baixo impacto, como caminhadas, natação ou ioga.
Gestão do estresse: O estresse pode intensificar os sintomas da endometriose. Práticas de redução do estresse, como meditação, respiração profunda e mindfulness, podem ser benéficas.
Converse com outras mulheres: Participe de grupos de apoio ou comunidades online onde mulheres compartilham experiências e estratégias de enfrentamento. O apoio mútuo pode ser reconfortante.
Explore terapias complementares: Algumas mulheres encontram alívio em terapias alternativas, como acupuntura, massagem ou fisioterapia pélvica. Consulte seu médico antes de iniciar qualquer nova abordagem.
Lembre-se, cada mulher é única, e o que funciona para uma pessoa pode não funcionar para outra. Experimente diferentes abordagens e ajuste-as conforme necessário, sempre seguindo as orientações do seu médico de confiança. Aprenda a ouvir seu corpo e aceitar limitações em certos momentos. Celebre as conquistas, por menores que sejam, e reconheça sua força ao enfrentar a endometriose diariamente.
Fonte:
Alexandra Ongaratto é médica ginecologista, Diretora Técnica do Instituto GRIS (primeiro centro clínico do Brasil focado na saúde íntima da mulher) em Curitiba, âncora do Podcast “Papo entre PPKs” e coordenadora da pós-graduação em Ginecologia Endócrina e Climatério na Escola de Especialidades Médicas do Grupo Inspirar.
Um comentário neste post
Muito esclarecedor. Infelizmente só depois de somos diagnosticadas, passamos a ter a real consciência dessa alteração em nosso organismo. Mas a medicina está aí a nosso favor. Bora se cuidar! Parabéns pela matéria