O que é, como identificar e porque é preciso acolher

Em abril de 2025, Curitiba e cidades da Região Metropolitana registraram um aumento expressivo de casos da doença mão-pé-boca, principalmente entre crianças pequenas. O alerta de surto partiu de escolas e unidades de saúde, com orientação das Secretarias Municipais e da Secretaria de Estado da Saúde do Paraná. Em municípios como São José dos Pinhais, o avanço dos casos foi rápido, exigindo reforço nas medidas de prevenção em ambientes coletivos.

Foi nesse contexto que um comunicado enviado pela escola do Raphael acendeu meu alerta de mãe: três colegas da turma testaram positivo para a doença. Raphael não contraiu o vírus, mas aquela notificação despertou algo maior — o meu olhar de jornalista.

Assim nasceu a vontade que há tempos já estava no coração e quando veio pra mente foi match e assim veio esta reportagem especial do Mamãe de Salto: da mistura entre a minha experiência pessoal, minha formação como jornalista e o desejo genuíno de apoiar quem cuida.

Além de fonte médica especializada, trago também um relato muito próximo do meu coração: a história da minha irmã, Renata, mãe da Catarina e da Heloísa, que viveu o desafio da doença mão-pé-boca anos atrás, quando a Catarina ainda era um bebê.


O que é mão-pé-boca?

A doença mão-pé-boca é uma infecção viral altamente contagiosa, causada por enterovírus — principalmente o Coxsackie A16. Atinge com mais frequência crianças menores de 5 anos, pela forma como se transmite: contato com saliva, secreções respiratórias, fezes ou superfícies contaminadas.

A pediatra Aline Crocetti Wakamori (@pedialine_crocetti) explica que “crianças pequenas têm o hábito constante de levar objetos à boca, o que facilita a contaminação. Adultos também podem adoecer, mas é raro — geralmente quando há exposição intensa.”


Um início sutil, mas marcante

Minha irmã lembra com precisão o começo de tudo. “A Catarina estava na escola e, quando fui buscá-la, percebi bolinhas nas mãos e nos pés. Nada na boca. Mas já havia febre e mal-estar. Como mãe de primeira viagem, não associei de imediato”.

Naquele mesmo dia, a CatCat (eu a chamo assim 🩷) passou por uma consulta pediátrica agendada previamente — mas, sem as lesões mais evidentes, o diagnóstico não veio. “Só no dia seguinte, com a evolução dos sintomas, percebi que algo diferente estava acontecendo”.

A médica confirma que esse tipo de confusão é comum, já que “os primeiros sintomas costumam ser genéricos: febre, dor de garganta, irritabilidade. O quadro típico com bolhas aparece após alguns dias, dificultando a identificação precoce”.


Quando o corpo sente… e a rotina muda

A doença foi rápida, mas os reflexos foram profundos. “A Catarina perdeu o apetite durante a infecção e, depois, começou a recusar vários alimentos. Uma criança que comia de tudo passou a ser seletiva. Foram meses de reintrodução alimentar.”

Essa consequência, segundo a Dra. Aline, tem explicação. “A dor nas lesões orais faz com que a criança relacione o ato de comer ao desconforto. Isso pode gerar seletividade alimentar mesmo após a recuperação clínica”.

Além da alimentação, Renata notou uma mudança emocional: “Ela ficou irritadiça, sensível, com dificuldades para dormir. Era como se o desconforto tivesse tomado conta do corpo e da mente”.


Intuição, cuidado e acolhimento

Sem informações objetivas sobre a doença, Renata seguiu o abençoado instinto materno: banhos mornos, sabonetes antissépticos, cremes cicatrizantes. “Lembrei do que minha mãe fazia comigo quando tive catapora. Fui tentando aliviar os sintomas como podia”.

A pediatra reforça que o tratamento é sintomático. “Controlar a dor e a febre, manter hidratação, evitar alimentos ácidos e manter a criança em ambiente tranquilo. Em alguns casos, pode-se recorrer à laserterapia para acelerar a cicatrização das lesões”.


O surto, a escola e a importância do afastamento

Naquela semana, a escola informou que outras crianças também apresentavam sintomas. Era o início de um surto — algo que também está acontecendo em 2025, principalmente em creches e escolas de Curitiba e região.

“A fase de maior contágio ocorre nos primeiros dias, mas o vírus pode continuar sendo eliminado pelas fezes por até quatro semanas após os sintomas cessarem. Por isso, afastar a criança da escola por pelo menos 7 dias e reforçar a higiene é fundamental.” — Dra. Aline Crocetti

Renata seguiu as recomendações com rigor e adaptou a rotina familiar para cuidar da filha sem sobrecarregá-la.


Marcas físicas que também afetam o emocional

A recuperação parecia estar em curso quando surgiram as sequelas: “A Catarina começou a perder as unhas, uma a uma. Não doía, mas ver aquilo era doloroso. Uma lembrança física de tudo o que ela havia enfrentado”.

A pediatra esclarece que “a perda de unhas é chamada onicomadese. Pode surgir entre 3 e 8 semanas após a infecção. Apesar do susto, é temporária: as unhas voltam a crescer sem necessidade de tratamento”.

Durante uma viagem já programada, Renata precisou adaptar os cuidados: evitar sol, manter a filha fresca e hidratada, observar a cicatrização da pele e da autoestima.


Um recado de quem já passou por isso

Meu maior conselho? Paciência e acolhimento. A criança sente tudo — dor, irritação, medo. E a gente sente junto. Os dias são longos, cansativos. Mas passam. E a forma como a gente cuida faz diferença”.

Renata ainda reforça a importância do apoio: “Na época, eu tinha só a Catarina. Hoje, com duas filhas, sei o quanto contar com alguém é fundamental. Quem cuida também precisa de cuidado.


Informação, afeto e rede de apoio

A síndrome mão-pé-boca não é uma doença nova — mas continua desafiadora para quem vive de perto. Em tempos de surtos e desinformação, informar com afeto é uma forma de cuidar.

Se você está passando por isso agora, respira. Você não está sozinha.
Aqui no Mamãe de Salto, acreditamos que mãe informada é mãe fortalecida — e que rede de apoio começa com partilha.

Tem uma história parecida? Quer compartilhar sua vivência? Me escreve aqui ou nas redes.


Estamos juntas.