Fingir orgasmo? Só se for em novela ruim. No Dia do Orgasmo, um convite para você se reconectar com o seu corpo, seus desejos e a liberdade de dizer: quero mais. Muito mais.

Nunca houve uma conversa sobre sexo ou sexualidade na minha casa.
Tabu com T bem grandão.

Acontece que na vida a gente aprende que T grandão também é de tesão — e essa palavra eu sequer ouvi dentro da minha família. O que eu sabia sobre sexo? O básico do básico. Aliás, nem isso. Aprendi que meninos têm pênis e meninas têm vagina assistindo Um Tira no Jardim de Infância (quem lembra?).

Foi só quando comecei a namorar que o corpo começou a dar sinais. Sensações. Sentimentos. Mas só depois de casada, com conversa, muuuuuuuita conversa, entendi que o prazer existe. E que ele é bom demais.

Aliás, acho que foi por isso que engravidei “cedo”: a cabeça não entendia nada, mas o corpo tava pronto pra tudo. 😏🔥
E olha … foi uma aula prática que eu nunca mais esqueci.

Os dados mostram que a gente ainda tá engatinhando

  • Segundo a Durex, 67% das brasileiras não chegam ao orgasmo em todas as relações.
  • Em casais heterossexuais, 95% dos homens dizem gozar sempre. Entre as mulheres? Só 65%.
  • Quando falamos em pessoas LGBTQIAPN+, a pesquisa é escassa — mas os relatos são os mesmos: culpa, vergonha, falta de escuta, de toque e de conexão real.

Ou seja: tem muita gente transando. Mas pouca gente gozando.

Mas prazer não nasce só na cama

Orgasmo é corpo, mas também é cabeça. E o que a gente aprendeu (ou deixou de aprender) sobre sexo faz toda a diferença na hora H.

Cansaço, culpa materna, falta de autoconhecimento, vergonha do corpo, medo de conversar com o parceiro (ou parceira) … tudo isso atrapalha.
E tem gente que passa a vida achando que está quebrada, quando na verdade está só sobrecarregada, silenciada ou desconectada de si.

O prazer começa antes do toque — e continua depois do gozo

As dicas abaixo são do urologista João Brunhara e valem pra todo mundo com desejo e corpo vivo:

1. Conheça suas zonas erógenas (e da sua parceira também)

Clitóris, seios, glande, nuca, joelho, orelha, barriga … cada corpo é um mapa. E o prazer começa quando a gente para de seguir só um caminho.

2. Sexo bom não depende só de penetração

A gente foi ensinada a pensar que transar é penetração. Mas o corpo inteiro pode ser fonte de prazer. Beijos demorados, carícias, olhares. Explorar sem pressa é o novo sexy.

3. Masturbação não é plano B — é autoconhecimento

A tal da “Safety Wank” — masturbação antes do sexo pra durar mais — funciona pra alguns homens, mas não é milagre. Masturbar-se é uma forma de entender o que te excita, te alivia, te conecta com você. E isso é revolucionário.

“Após a ejaculação, o homem entra em uma fase refratária e tende a se sentir mais calmo. Isso pode ajudar a retardar um novo orgasmo — mas nem sempre funciona para todos”, explica o urologista.

4. Técnicas que ajudam de verdade

Além da masturbação, há técnicas de respiração, o método do aperto (“squeeze”), e até terapia sexual. O importante é buscar orientação e entender o próprio ritmo e limites.

5. Brinquedos e géis: aliados do prazer

Anel peniano, egg, vibrador, gel deslizante. Isso não é “coisa de filme” — é ferramenta de descoberta. Casais que se permitem explorar juntos, descobrem prazeres que antes pareciam impossíveis.

E o prazer depois dos 50? Spoiler: ele continua — e pode ser ainda melhor

Pode até não parecer, mas o orgasmo na maturidade ainda é um grande tabu.
Para muitas mulheres, a chegada da menopausa traz alterações hormonais, queda da libido e desconfortos físicos. Já os homens podem perceber mudanças no tempo de ereção, redução da testosterona e dificuldades com a ejaculação.

Mas isso não significa que o sexo acabou.
Muito pelo contrário: é possível (e necessário!) redescobrir o prazer com respeito, curiosidade e novas formas de conexão.

A sexóloga Natali Gutierrez é direta:

“O principal para manter a vida sexual ativa é se respeitar e entender que você mudou — e que seu parceiro também mudou. O corpo é outro, e tudo bem. É preciso acompanhar essas mudanças com cuidado, saúde em dia e vontade de explorar novas sensações.”

✅ Sexo não é só penetração

Beijos, carícias, massagem, toques conscientes, óleos com aroma, vibradores líquidos… o corpo é cheio de caminhos. É hora de sair do piloto automático e experimentar outros jeitos de chegar lá.

✅ Sextoys são aliados, não tabu

Na maturidade, os brinquedos podem ser uma revolução. Vibradores ajudam com o estímulo clitoriano, o anel peniano auxilia no controle da ejaculação, e ambos abrem espaço para mais diálogo, liberdade e prazer.

✅ Orgasmo na terceira idade existe — e pode ser o primeiro

Sim, muitas pessoas têm o primeiro orgasmo na maturidade. Porque é quando, finalmente, sabem o que gostam e com quem estão à vontade.
O corpo muda, mas o prazer não some — ele se transforma. E pode ficar ainda melhor.

Por que ainda é tão difícil gozar?

Um estudo da USP revelou um dado alarmante:
55% das brasileiras não têm orgasmos durante o sexo.

Mais da metade das mulheres ainda vive relações sem sentir o ápice do prazer. E não, isso não é falta de desejo — é resultado de repressão sexual, culpa, desinformação e a velha lógica falocêntrica que reduz o sexo à penetração.

A sexóloga e psicanalista Lelah Monteiro explica:

“O orgasmo é um percurso. É preciso parar de racionalizar tanto e simplesmente sentir. Explorar o corpo. Ter um diálogo honesto. E permitir-se.”

Outros dados importantes:

  • 7 em cada 10 mulheres brasileiras já fingiram orgasmo.
  • A penetração vaginal isolada aparece apenas em 4º lugar entre as práticas que mais levam mulheres ao orgasmo.
  • Sexo oral, masturbação e estimulação clitoriana pelo parceiro estão no topo da lista.
  • Homens heterossexuais chegam ao orgasmo com muito mais frequência que suas parceiras — o famoso orgasm gap.

Ou seja: gozar não é automático. É construção.
E ela começa com informação, liberdade e autoconhecimento.

Higiene também é autocuidado (e afrodisíaco)

Cuidar da higiene íntima é parte do respeito com você e com o outro. Um sabonete íntimo com pH equilibrado, por exemplo, ajuda a manter a região saudável e aumenta a segurança na intimidade.
Autocuidado é sexy. Cheiroso, inclusive.

E se não rolar o orgasmo?

Tá tudo bem.
Sexo bom não é performance. Não é nota 10.
É presença. Escuta. Conexão. E liberdade.

Orgasmo é consequência. Mas o prazer pode estar em tudo que acontece antes — e depois.

Dia do Orgasmo é sobre se colocar em primeiro lugar. Literalmente.

Hoje, 31 de julho, a gente te convida a desligar o automático. A silenciar o julgamento. A se olhar, se tocar, se respeitar.

Porque o prazer começa quando você entende que ninguém goza no seu lugar.
E que seu corpo merece muito mais do que obrigação: merece desejo, verdade e descoberta.