Meu relato sobre amamentar, errar, aprender e continuar se tornando mãe — uma tentativa de cada vez.

Encerrar uma série tão especial como essa — a Semana Mundial do Aleitamento Materno — me fez pensar muito sobre qual seria a melhor forma de fechar esse ciclo de histórias, informações e acolhimento. E foi impossível não olhar pra dentro. Porque antes de ser jornalista, sou mãe. Antes de entrevistar outras mulheres, fui uma mulher tentando descobrir como ser mãe. Então, nesse último post, decidi falar sobre a minha experiência. Abrir o peito, literalmente e simbolicamente, pra contar o que ninguém me contou, o que eu aprendi na marra, e o que ainda estou aprendendo.

A verdade é que mãe que é mãe aprende na prática. Porque não ensinam isso. E aí vai meu desabafo: AMAMENTAR É MUITO DIFÍCIL! #ProntoFalei!

Vende-se uma imagem falsa de que a amamentação é simples, instintiva, natural. Dizem que quem não amamenta é fraca, preguiçosa, menos mãe.
#Mentira.

Ninguém fala que é preciso paciência, vontade, dor, apoio, resiliência e amor próprio. Muito amor próprio.

O peso das histórias que a gente herda

Na minha família, o discurso era uníssono: mulher por aqui não tem leite, e se tem, é pouco e fraco.
Minha avó teve cinco filhos, todos alimentados com leite de vaca direto da fazenda misturado com amido de milho.
Minhas tias, minha mãe … todas seguiram o mesmo caminho.
E eu? Me vi repetindo o que ouvi a vida inteira. Me acomodei na crença de que eu também não teria leite.
E ninguém me disse o contrário.

Confesso com o coração apertado: eu não fiz nada pela minha primeira filha, Sophia.
Não li um livro, não busquei informação, não me preparei.
Eu só segui o fluxo, como se ser mãe fosse algo automático.

Tentei amamentar por dois meses. No dia 6 de abril de 2009, meu leite IN(felizmente) secou.
Sophia passou a ser alimentada com mamadeiras sofisticadas, fórmulas importadas.
Hoje, não me orgulho disso, mas também não me culpo.
Eu precisava viver isso pra entender o quanto precisava fazer diferente.

A jornada de tentar de novo — e fazer diferente

Treze anos depois, veio o Raphael.
E com ele, veio o desejo profundo de amamentar.
Planejei o enxoval com carinho, comprei almofada de amamentação, busquei consultora, tive apoio na maternidade, aluguei bomba elétrica, tomei medicamentos que estimulavam a produção…
E fui firme. Por seis meses.

Cada troca de peito era acompanhada pela trilha do Nintendo Wii, cantada por Ramon e Sophia como se Raphael fosse o rei aguardando audiência.
Era engraçado, era mágico. Mas também era exaustivo.

A privação de sono me deixou emocionalmente instável.
Na introdução alimentar, cedi à fórmula.
Não posso dizer que me arrependo… mas não posso dizer que não me arrependo.
A irritação que eu sentia por precisar dormir passou — mas levou junto meu aleitamento exclusivo.

Quando nada sai como o planejado — e ainda assim a gente segue

Minha gestação com Raphael também veio de surpresa.
Tive diabetes, hipertensão e, de repente, a notícia: precisava ser internada às pressas.
Estava perdendo líquido sem perceber.
A vida dele estava em risco.

Ele nasceu com hipoglicemia e aquilo foi um choque.
Meu emocional desmoronou.
Por um tempo, quase não consegui ser a mãe que sonhei ser.

Tomei uma decisão difícil, mas necessária: não quis ajuda de ninguém.
Ficamos só nós quatro — seis, se contar os o Marvel e a Capitã — por cinco meses.
Sem visitas. Sem palpites. Sem conselhos que eu não pedi.
Foi maravilhoso. E foi cansativo.
Mas disso, não me arrependo.

Errar, tentar, aprender — e acolher

Planejei tanto, sonhei tanto… e, na vida real, quase nada saiu como imaginei.
Mas aprendi. Cresci.
E hoje, se houver uma próxima vez, sei que farei melhor.

Já conheci mães que amamentaram e não querem repetir.
Outras que conseguiram na segunda tentativa.
Algumas que cederam na maternidade.
Outras que persistiram e viraram fonte de apoio pra outras mães.

Todas elas são mães.
E todas elas merecem respeito.

Não existe uma única história sobre amamentação.
Existe a sua. E ela importa.

Se você está lendo isso e sentindo culpa, raiva, alívio ou paz: eu te abraço.
Se você está exausta, machucada, orgulhosa ou em dúvida: eu te entendo.

A amamentação é um capítulo da maternidade. Não é o livro todo.

E no fim das contas, ser mãe é isso mesmo: amar, tentar, errar, perdoar — e recomeçar.