NA SEMANA MUNDIAL DO ALEITAMENTO MATERNO, O MAMÃE DE SALTO CELEBRA O VÍNCULO QUE VAI ALÉM DO LEITE — UMA HISTÓRIA DE CORAGEM, SOLIDÃO E AMOR QUE ACONTECEU ENTRE PANDEMIA, CIRURGIA E RESISTÊNCIA.

Na Semana Mundial do Aleitamento Materno, o Mamãe de Salto faz uma pausa na fala técnica para escutar quem sente na pele (e no peito) o que é alimentar com o próprio corpo. Nesta jornada que transforma mulher em mãe, existe um superpoder silencioso: o da amamentação. Um poder que desafia dores, julgamentos, pandemias e cirurgias — e que se revela no vínculo inquebrável entre uma mãe e seu bebê.

Hoje quero contar a história da Luiza Garmendia Kerby, ou melhor, a minha mana da alma e de vida Lumma. Eu poderia listar inúmeras qualidades dela, mas acho que só preciso dizer que ela é dessas mulheres que carregam no peito um superpoder. Mãe do Matthew (5 anos) e da Luana (quase 1), ela amamentou os dois filhos nos Estados Unidos em cenários completamente diferentes, mas com algo em comum: a resistência.

Vivendo em outro país, com outros costumes, pandemia, cirurgia, enfrentando o silenciamento e a pressão de quem deveria apoiar, a amamentação virou para ela mais do que um ato de nutrição: virou um escudo.

O INÍCIO TURBULENTO COM O MATTHEW: ENTRE A PANDEMIA E A DESINFORMAÇÃO

“O início foi bem difícil. Ele nasceu em agosto de 2020, bem no auge da pandemia, então não tinha suporte nenhum. Ele chorava muito, gritava. Só com 11 meses fui descobrir que ele tinha o lábio preso.”

Luiza conta que, sem apoio e com todas as restrições da pandemia, ela precisou buscar sozinha as informações que tanto precisava. Fez dos vídeos no YouTube seus aliados, aprendeu sobre pega, exercícios, massagem. “Foi tudo na marra.”

Mas mais do que a dor no corpo, o que mais doía era o silenciamento:

“A gente se sente sozinha o tempo inteiro. Ao invés de apoio, o que vinham me oferecer era mamadeira. Como se isso resolvesse tudo. Como se fosse ajuda.”

E não foi fácil lidar com essas “ajudas”. Teve que dizer não. Teve que cortar acessos. “Eu peguei minha mãe dando mamadeira pra ele escondida. Sendo que ela sabia o quanto isso me doía. Foi traumático. Mas ele nunca pegou mamadeira. Nem chupeta. Fomos só eu e ele.”

A AMAMENTAÇÃO COMO RESISTÊNCIA: O VÍNCULO QUE NINGUÉM TIRA

“Amamentar não é intuitivo. Isso é mentira. Tem muita técnica envolvida.”

A cada dificuldade, a cada crítica, a cada frase de desconfiança, Luiza ficava ainda mais decidida a seguir. “Sou teimosa. Quanto mais falavam pra dar fórmula, mais eu queria mostrar que eu podia.”

O Matthew mamou até os 2 anos e 8 meses. E o desmame foi respeitoso, como ela desejava. “Foram anos de superação, mas também de olhar no olho e sentir aquele amor puro, grato, que é só da gente.”

COM A LUANA, OUTRA JORNADA. OUTRA FORÇA.

“Com ela, eu já sabia que viria esse anti-suporte. A ajuda disfarçada, sabe? Aquele ‘deixa que eu dou a mamadeira’ que na verdade te silencia.”

A experiência anterior a deixou mais forte. Ela se blindou contra as críticas, não deixou se abalar e, felizmente, a amamentação com a Luana começou bem.

Mas a vida colocou mais um obstáculo no caminho: pancreatite, hospitalização, cirurgia. “Ela tinha um mês e meio. Mas já estávamos conectadas. A amamentação já estava estabelecida.”

Mesmo com dor, mesmo com as dificuldades do pós-operatório, ela não deixou de amamentar. “Era o nosso momento. Meu corpo sangrava por dentro, mas o peito seguia forte.”

O QUE UMA MÃE DEVERIA OUVIR, MAS NINGUÉM DIZ

Se ela pudesse dar um conselho para uma mãe de primeira viagem, seria direto ao ponto:

“Se informe. Estude. Vai pro YouTube. Leia. Se eduque sobre o leite. Porque 99% do que vão te falar é lixo. Não existe leite fraco. Não aceite que te separem do seu bebê. Isso não é ajuda.”

E se tem uma coisa que a amamentação ensinou, foi sobre superpoderes:

“Minha filha pode se machucar, chorar, ter um pesadelo … Eu sei que, se eu der o peito, tudo passa. Isso é mágico. Isso é nosso.”

PEITO, AMOR E CORAGEM

acervo pessoal

“Amamentar me mudou como mulher? Não sei. O que mudou foram minhas roupas: agora escolho as mais fáceis de tirar o peito numa emergência.”

Com humor e com verdade, essa super heroína encerra o relato que nos atravessa como um manifesto. Amamentar não é só nutrir. É resistir, é proteger, é desafiar o sistema, é confiar no próprio corpo.

Na Semana Mundial do Aleitamento Materno, o Mamãe de Salto presta homenagem às mulheres que amamentam com informação, instinto e instinto de sobrevivência. Com ou sem apoio. Com ou sem sono. Com o peito cheio de leite. E o coração, de coragem.