Foram 32 anos fazendo quase sempre tudo igual. Os filmes norte-americanos ensinaram e as novelas brasileiras adaptaram o ritual. 31 de dezembro. Último dia do ano. Misturado aos preparos de um almoço bem simples, começa a preparação para o jantar da ceia de réveillon. Tive o privilégio de acompanhar a rotina desse momento em duas famílias bem diferentes durante 364 dias, mas hoje, ontem, quer dizer, todo dia 31 de dezembro parece ser igual em todas as famílias, em todos os lugares. 

Em geral, as mulheres cozinham. O cardápio mescla o tradicional com as novas descobertas. Todos os sabores e paladares são lembrados e contemplados. Até eu, a mais chata das pessoas, me sinto acolhida nesta noite, já que sempre alguém pensa em lasanha, empadão de frango ou um mignon com molho quatro queijos. 

Costumo me arrumar bem mais para a virada do ano do que pro nascimento de Jesus. Não sigo muitas tradições de cor na roupa, mas gosto de usar, ousar e abusar das cores na maquiagem. 

São 23h55. Família toda reunida. Aquela cena clássica de Ano Novo. Correria para pegar o champanhe no freezer e servi-lo nas taças. Preparativos para o início da contagem regressiva. Taças em mãos! Para muitos este será o primeiro ano a ser celebrado apenas com o núcleo familiar diário, ou seja, aqueles que moram com você. Confesso que para mim passar assim não é uma exceção. Nos últimos anos foi a regra aqui em casa. Não há nada mais prazeroso que estar com quem nos traz paz. 

Adoro aquele poema do Drummond que fala sobre a virada de ano. Prometo deixar ele aqui e que postarei no Facebook e Instagram caso queiram compartilhar. Eu particularmente gosto de refletir a parte que ele diz que “não precisa chorar arrependido pelas besteiras consumidas nem parvamente acreditar que por decreto de esperança a partir de janeiro as coisas mudem e seja tudo claridade, recompensa, justiça entre os homens e as nações, liberdade com cheiro e gosto de pão matinal, direitos respeitados, começando pelo direito augusto de viver“, afinal, não é esse o sentimento que a passagem de ano inconscientemente nos traz? 

Começa com os supermercados que lotam nos dias 30 e 31 como se no primeiro dia do novo ano tudo não fosse mais existir. Sobre os ritos da passagem, são listas e metas radicais. Nunca vou esquecer de uma lista que fiz numa agenda/diário na adolescência. Eu que nunca fui boa para guardar dinheiro nem uma devoradora de livros, estipulei ler dois livros por mês e guardar R$ 50,00 a cada quatro semanas. No primeiro trimestre já vi o fracasso de perto, já que nem mesada recebia, então como guardar dinheiro e livros? Ler a revista Capricho semanal conta? 

Olho para trás e lembro como haviam muitas e boas expectativas para 2020. Parece que janeiro deste ano tinha um discurso de grandes promessas. Se precisasse resumir o primeiro trimestre, diria que ele foi tipo a entrevista da Regina Duarte para a CNN Brasil. “Tinha tanta coisa bacana pra falar”, 2020 diria. Em março tudo simplesmente acabou. E não foi apenas para mim. Foi para todo mundo. Em todo o mundo.

Mas, sim, 2020 chegou. E já foi embora. Porque tinha que chegar, passar, ensinar e ir embora mesmo. E se você está lendo esse texto podemos juntos agradecer simplesmente por estarmos aqui. Infelizmente, nem todos conseguiram. No Brasil foram mais de 193 mil mães, pais, filhos e amigos que se foram pela COVID-19. No mundo, mais de 1 milhão 810 mil pessoas. 

Não quero, não posso nem devo romantizar essa tragédia, mas fizemos parte da história. Vivemos ela e tivemos nossa geração marcada por isso. Daqui a 30/40 anos provavelmente não lembraremos muito para contar aos nossos netos sobre 2015, 2016, 17, 18 ou mesmo 2022, 23,24 e 25. Mas de 2020 sim. Sophia já falou algumas vezes que será algo único contar para seus filhos sobre a pandemia que viveu. Quer dizer, ainda vive né? 

Mas o ponto aqui não é tão somente passar por isso. Mas se perguntar o que isso trouxe para você? O que te ensinou? Que tipo de pessoa você se tornará após os anticorpos mais desejados do planeta estarão correndo pelo seu organismo? Não, você não será mais o mesmo. Sabe disso. Depois que tudo que viu e viveu, o que fará quando a sonhada vacina chegar e todos nós pudermos viver normalmente? Será que algum dia voltaremos a viver como antes? Seremos iguais a antes do novo coronavírus? Eu não! 

Para o novo ano, para 2021 eu desejo que vivamos uma alegria coletiva e contagiante. Que possamos valorizar momentos simples. Isso em qualquer aspecto da sua vida. Seja ela pessoal ou profissional. 

Espero que daqui a 1 ano a normalidade seja vivenciada não como “novo”, mas como evolução mesmo. Que 2021 seja, assim como o ano inicial da década, um ciclo de retomada e prosperidade.

FELIZ 2021!