Eu já ouvi milhares de vezes o ditado “um raio não cai duas vezes no mesmo lugar”. Também ouço e vivo direto o ditado “toda regra tem sua excessão”. Então eu posso garantir que além de ser a prova de que a ordem dos fatores não altera tanto o produto, agora posso dizer que sou a exceção à regra de que um raio cai sim duas vezes no mesmo lugar. Neste caso, o raio é uma gravidez não planejada, sem sintomas típicos e descoberta num estágio já avançado.
Contei aqui, aqui, aqui e aqui também como foi a descoberta da gravidez da Sophia, mas vou tentar dar uma resumida só para não perder o costume de contar a história que eu achei que era impossível reviver. Eu e papis namorávamos desde os 14 anos, estávamos com 21 e fazíamos faculdades na mesma universidade. Eu sempre sofri com o efeito sanfona e desde os treze anos estava habituada a passar o outono e inverno no período de “engorda”, na primavera tomava remédio para emagrecer – não faça isso! – para estar com o corpo magro para o verão. Então para mim julho, agosto e setembro eram os períodos de maior peso corporal. Começou que em outubro eu não estava perdendo peso e pessoas próximas já começaram a fazer aquelas perguntas bem maravilhosas, como “nossa, tá grávida de quantos meses?” e você tentando esboçar um sorriso segurando o choro responde “não estou grávida, só acima do peso mesmo”.
Enfim, um certo dia minha mãe sugeriu que eu realmente poderia estar grávida. Compramos um teste na farmácia e as tais duas listras aparecem. Era uma quarta-feira, 29 de outubro de 2008. Na sexta-feira, 31, eu fiz uma ecografia esperando ver aquele borrão na tela e estava uma coluna, duas pernas, dois braços e uma cabeça. A data prevista para o parto seria 06 de fevereiro de 2009. Faça as contas! Sophia nasceu de parto cesáreo não agendado na data em que o primeiro exame deu como data de nascimento. Veio perfeita e saudável.
Naquele momento, eu e Ramon ainda éramos namorados e morávamos em casas separadas. Fomos morar os três juntos quando Gatoca tinha uns três meses e aprendemos a ser uma família errando e acertando. Ao longo dos anos vivemos experiências boas, maravilhosas e péssimas. Poderia escrever uma bíblia com nossos perrengues nada chiques. Sobrevivemos e isso nos deixou mais fortes e unidos.
Ao longo desses treze anos não havia espaço para uma nova gravidez. Na nossa cabeça, como começamos de forma tão “bagunçada”, parecia não ser possível, principalmente pela questão financeira que, sabemos muito bem que há anos aquele papo de “coração de mãe … onde comem três comem quatro” já não existe mais.
Eu me formei em jornalismo, sobrevivemos a uma pandemia e começamos 2022 com o sonho de vivermos uma vida com um pouco mais de prazer e lazer. Pela primeira vez na nossa vida em casal, eu e Ramon viajamos juntos. Sim, mesmo estando juntos há vinte anos, nunca havíamos viajado juntos e fomos viver a experiência do Lollapalooza. Como também nunca tiramos férias em família, compramos ingressos para o Rock in Rio para viver mais essa aventura, agora com a Sophia. Estávamos planejando uma viagem nessas férias de inverno para Gramado e depois entrar com pedidos de passaporte e visto para conhecer a Disney, meu sonho de princesa desde os quinze anos, quando achei que ganharia uma viagem de debutante, já que não teria festa.
Mas o que são planos nossos perto dos planos do universo, não é mesmo? Até que algo me incomodou para levar Sophia ao ginecologista. Para aproveitar a viagem, marquei consulta para mim, já que a pandemia me deixou dois anos trancada em casa, só comendo e dormindo, além disso, queria parar com a pílula anticoncepcional e colocar DIU. Consulta feita, segue aquelas inúmeras solicitações de exames. Como já estava fazendo pilates para deixar de ser sedentária e academia para suportar a maratona de shows do Rock in Rio, pensei em fazer primeiro os de imagem para depois fazer os de sangue.
O primeiro exame que fiz foi um tal de MAPA, pois na consulta de rotina minha pressão arterial estava um pouco alta. Mas como estava passando por problemas pessoais, coloquei a culpa nisso. Foram as piores 24 horas que já passei na vida, sério, que exame horrível. Durante o exame, Ramon tinha consulta com o cardiologista que já disse que iria ver o resultado desse exame para cuidar de mim. No dia seguinte ao exame da pressão, eu tinha agendado o exame de imagem ginecológico: ultrassonografia intravaginal. Eu nunca tinha feito esse procedimento, mas sabia que era chato e desconfortável. Era sexta-feira, 10 de junho, às 16h30. Hoje eu realmente me pergunto quem marca um exame desses numa sexta-feira à tarde?
Com o atraso, devo ter sido chamada lá pelas 17h. A clínica tem dois andares, Ramon ficou embaixo com minha bolsa e celular e eu subi. Na sala da tortura tirei calça e calcinha, sentei/deitei naquela cadeira para lá de desconfortável e esperei a profissional. Ela entrou, deu oi e perguntou se era exame de rotina. Respondi que sim. Ela perguntou se eu já havia feito esse exame anteriormente, eu disse que não, então ela me explicou como funciona e que sentiria um desconforto. Começou o exame – mulheres, imaginem a cena e como é o início daquele procedimento invasivo e desconfortável – e ela me fez A pergunta “a menstruação está atrasada em quanto tempo?”. Num piscar de olhos eu entendi que aquele questionamento queria dizer alguma coisa. Expliquei que tomava pílula anticoncepcional de uso contínuo e por isso não estava atrasada. Foi aí que veio a bomba “é que tem um bebê por aqui, e está grande, com certeza com três, quatro meses. Vou interromper seu exame porque senão você não conseguirá autorizar os próximos e por aqui eu não consigo nem ver mais, está bem avançada a gestação”. Eu só soltei “de novo não!“.
Me vesti como consegui, desci as escadas na força da fé e ao chegar perto do Ramon só consegui falar “estou grávida!”. Estou escrevendo esse texto ainda sem acreditar que isso foi há menos de duas semanas. Não havia novamente planos, mas diferente do positivo de treze anos atrás, hoje conseguimos entender e viver bem melhor essa notícia.
O final de semana foi de loucura. A principal pessoa que queríamos contar era Sophia, mas essa parte a gente conta num texto especial, afinal, merece! Contamos para os familiares e amigos próximos e começamos a pensar que a vida vai mudar, afinal, agora já somos 5: eu, papis, Gatoca, Marvel e Capitã! Mas não tem problema, estamos em junho, três/quatro meses, a previsão é novembro/dezembro, tá beleza!
Acontece que a profissional me deixou com milhares de dúvidas, como assim um bebê aqui dentro e eu não sabia novamente? Ele está vivo? Saudável? De quanto tempo estou realmente? O final de semana foi de dúvidas, principalmente porque as pessoas fazem perguntas e não conseguem entender que a gente também não tinha muita informação. Pelo Google achei uma clínica que fazia o exame de ultrassonografia sem solicitação médica e tinha horário no mesmo dia. Marquei! Eu e papis fomos, explicamos a situação e o profissional explicou que até 12 semanas o exame seria intravaginal, acima desse período poderia ser pela barriga. Fez um pequeno teste e UOU, apareceu a coluna vertebral inteira. Novamente sabíamos que era uma gestação nível Sophia, já avançada. Até abri uma caixinha de enquete no meu story perguntando pro pessoal sobre a idade gestacional e a galera não confiou que éramos vida louca e a maioria respondeu que eu estava de 3 – 4 meses.
Hahahaha, ah galera, acontece que dessa vez foi diferente, estamos de CINCO MESES E MEIO! Pois é, dobramos nossa meta e diminuímos o tempo de gravidez para apenas três meses!
Se você chegou até aqui, deve com certeza estar se perguntando como isso foi possível? Eu também não sei! Desconfio que engravidamos numa pausa maior que apenas os quatro dias de intervalo da pílula, quando senti que meu corpo precisava menstruar. Lembro que uma relação foi sem nenhum método contraceptivo porque brincamos que seria impossível engravidar numa única vez. Depois desta pausa eu menstruei e voltei a tomar a pílula até agora, quando um bebê apareceu no exame. Novamente não tive azia, enjoo, mal estar ou sintomas negativos relacionados a gravidez. Sono eu tenho desde que nasci e desejos por comidas também, afinal, sou um panda, mas como nenhum desejo foi fora da casiiiiinhaaaa (eu sei que você leu com a voz do Arthur Aguiar), jamais liguei a uma possível gestação. Óbvio que após a descoberta da gravidez e depois do tempo que estou a barriga só cresceu e apareceu, assim como com Sophia.
O susto foi enorme, ainda estamos entendo toda essa novidade. Depois de 13 anos iremos recomeçar uma nova e deliciosa fase da vida em família. Pela primeira vez eu e papis estamos juntos, ele vivendo essa experiência diariamente ao meu lado. Estamos na nossa casa. Novamente é tudo novo e único. Temos uma filha adolescente e dois cachorros. A casa não está preparada para um bebê, não compramos nada, a não ser algumas peças de roupa, um pacote de fralda e o carrinho, porque assim, se nascer agora, tem como sair da maternidade. Estamos procurando tudo, juntos, com calma e muito amor.
Agora é celebrar essa vida que está na pancinha e amamos tanto, que a gente já não imagina a vida sem a chegada do pãozinho. O amor multiplicou e fomos abençoados. Que venha com muita saúde, porque amor, ah o amor, isso já tem de sobra!
2 comments
Depois de 13 anos, uma faculdade de jornalismo, e agora uma especialização, posso dizer com toda certeza, sua evolução foi meteórica na redação do texto. A sua história” essa” Deus escreveu com toda habilidade e sabedoria que só Ele faz. Eu só tenho que estar ao lado somando com mais um ser humaninho.
Parabéns Marcela! Deus abençoe sua familia e o bebezão q está vindo!!!