O passo a passo da amamentação – da pega correta à volta ao trabalho – com apoio emocional, vínculo e informação de qualidade
Agosto é o mês dourado — e não é à toa. A cor simboliza o “padrão ouro” do leite materno: alimento completo, natural, afetivo, sustentável e gratuito. Durante todo o mês, ações e conteúdos buscam apoiar mães e famílias na jornada da amamentação. E, para isso, informação clara, empática e baseada em evidências é fundamental.
Amamentar é natural, mas não é instintivo. Exige técnica, paciência, apoio e, acima de tudo, informação. Neste post especial do Agosto Dourado, reunimos tudo o que você precisa saber para começar (ou recomeçar) sua jornada de amamentação com mais confiança.
De mães de prematuros a mulheres que se preparam para voltar ao trabalho, de quem está conhecendo o colostro até quem precisa de apoio para ordenhar, todas merecem um conteúdo que acolha, oriente e fortaleça. E é isso que entregamos aqui.
Neste super post especial, reunimos orientações práticas e falas de especialistas para ajudar quem está amamentando ou deseja se preparar para esse momento. Vamos juntas?
Prematuros também mamam
Segundo a enfermeira obstetra Cinthia Calsinski, muitos pais e cuidadores acham que o bebê prematuro precisa ser alimentado exclusivamente por fórmula por não ter “força” ou reflexo de sucção para ser amamentado. Mas isso é um mito:
“Na realidade, quando se trata de prematuros, é comum a diminuição ou falta dos reflexos de sucção e deglutição, mas é perfeitamente possível seu desenvolvimento e, desta maneira, a manutenção da amamentação através do apoio à mãe, cuidados a ambos e orientações específicas.”
Sobre a produção de leite nesses casos, Cinthia explica:
“O volume a ser consumido é proporcional ao tamanho do bebê. Por isso, a mamãe deve ser orientada a estimular a mama e iniciar a ordenha para manter a produção de leite. Ela pode fazer isso por, aproximadamente, oito vezes ao dia, com uma bomba extratora ou mesmo com as mãos. É importante não ficar mais de seis horas sem ordenhar para não empedrar o leite.”
Ela ainda destaca a importância do contato pele a pele:
“O contato pele a pele ajuda a fortalecer o vínculo, estimular a produção de leite e aguçar os sentidos do bebê, motivando-o a sugar.”
Golden Hour: a primeira hora de ouro da amamentação
A chamada Golden Hour, ou “hora dourada”, é o nome dado à primeira hora de vida do bebê — e é considerada um momento precioso para iniciar a amamentação.
“O ideal é que, logo após o parto, o bebê seja colocado pele a pele com a mãe, sem interferências, ainda na sala de parto”, orienta Cinthia Calsinski. “Esse contato ajuda a estabilizar a respiração do bebê, estimula a sucção e favorece a descida do leite.”
Mesmo que o leite ainda não tenha descido completamente, é nessa hora que o bebê vai receber o colostro — primeiro leite rico em anticorpos, nutrientes e proteção. Além disso, o momento favorece o vínculo afetivo entre mãe e filho, regula a temperatura corporal do bebê e contribui para o sucesso da amamentação a longo prazo.
“O bebê nasce preparado para procurar o seio da mãe. Basta respeitar o tempo dele e oferecer esse contato contínuo e amoroso”, completa Cinthia.
Quando a ordenha vira aliada

Para muitas mães, a bomba de leite se torna uma ferramenta essencial em diferentes momentos:
“A bomba de leite pode ser utilizada em diversas situações: resolver uma questão de empedramento de leite, uma ausência planejada da mãe, para doação de leite, por conta do retorno ao trabalho, para aumentar a produção de leite, por uma necessidade de relactação, para complementar com o próprio leite, para a lactação induzida em situação de parto prematuro, entre outros”, explica Cinthia Calsinski.
Sobre o uso da bomba, a especialista alerta:
“Importante saber que existem tamanhos diferentes de bocais para encaixe na aréola, e assim como no caso do bebê, um encaixe errado pode não apenas não ordenhar adequadamente como machucar.”
E dá dicas práticas para a ordenha:
“Relaxe: não fique contando gota por gota. Tome um banho morno antes, olhe fotos ou vídeos do seu bebê, isso ajuda a relaxar e ordenhar maior volume.”
Como saber se a pega está correta?

Um dos maiores desafios do início da amamentação é a pega incorreta, que pode causar dor, fissuras e desmotivação. Mas existem sinais claros de que a pega está funcionando bem:
- O bebê abocanha toda a aréola (não só o bico do seio)
- As bochechas do bebê ficam arredondadas e ele faz movimentos ritmados de sucção
- A mãe não sente dor intensa durante a mamada
- O bebê engole o leite (você consegue ouvir ou ver)
Se houver dor constante, machucados no mamilo ou bebê com ganho de peso abaixo do esperado, vale buscar ajuda de uma consultora de amamentação ou enfermeira.
Amamentar faz bem para o corpo — e para a mente

Segundo Eneida Souza, consultora e educadora em aleitamento materno:
“A extração do leite humano é uma prática que auxilia de diversas maneiras as famílias, como aquelas que trabalham fora de casa, que podem manter o aleitamento das crianças com exclusividade até os seis meses e, até os dois anos ou mais, associado a outros alimentos.”
Ela explica que o leite humano extraído e armazenado corretamente oferece os mesmos benefícios da mamada direta:
“É indicado que o leite seja extraído no período de 1 hora após amamentar o bebê, para não tirar leite da mamada seguinte. O uso de extratores de leite, seja manual ou elétrico, é um recurso eficiente para oferecer mais conforto para as mães neste processo.”
Além disso, a amamentação impacta diretamente a saúde emocional da mulher:
“Os altos níveis de hormônios liberados durante a produção de leite resultam em alterações constantes, deixando a mulher mais motivada, atenta e protetora, o que faz com que a mãe responda prontamente ao bebê e passe a interpretar de maneira mais eficaz as suas necessidades.”
O papel do pai e da rede de apoio
Eneida destaca também que o apoio familiar é decisivo para o sucesso da amamentação:
“Estar ao lado da mulher durante as mamadas, dar apoio emocional e incentivá-la, faz com que ela não se sinta sozinha e consiga enfrentar os desafios mais facilmente. Levar um copo de água, cuidar da arrumação da casa ou preparar a refeição são outras atividades simples que tanto o pai como a rede de apoio podem fazer.”
Ela comenta que 88% das mães brasileiras gostariam de mais informações sobre como os parceiros podem apoiá-las no período da amamentação, segundo pesquisa da Philips Avent.
Amamentação e sustentabilidade
A enfermeira Rosane da Silva, do Banco de Leite Humano do Hospital Universitário Evangélico Mackenzie (HUEM), explica:
“Além de o leite materno ser um alimento completo, a mama é uma embalagem não descartável, o que previne a poluição ao diminuir a geração de lixo. Um bebê mama em média mais de mil mamadeiras no primeiro ano de vida. Ao amamentar no peito existe economia de fósforo, gás, detergente, água, esponjas e escovas para lavar a mamadeira.”
A supervisora de enfermagem do HUEM, Ana Lúcia dos Anjos Lima, reforça:
“A cor dourada está relacionada ao padrão ouro de qualidade do leite materno. Porque é um alimento natural, completo, de baixo custo, previne o bebê contra doenças, reduz o risco de alergias e não polui o planeta.”
Ela também faz um alerta importante:
“Algumas mães se queixam de dor ao amamentar. O desconforto costuma ser causado porque a boca do bebê está mal encaixada no peito da mãe numa posição não correta. É importante não desistir, insistir, procurar ajuda e apoio de um profissional de saúde. Só tem vantagens.”
Amamentar salva vidas — e doação também
Mães que produzem leite em excesso podem ajudar outros bebês em situação de risco, como prematuros internados em UTIs neonatais. O Banco de Leite Humano do HUEM, em Curitiba, recolheu mais de mil litros de leite só no primeiro semestre de 2020.
A coleta pode ser feita em casa, com agendamento pelo telefone (41) 3240-5117. Equipes do hospital entregam os frascos esterilizados e buscam semanalmente o leite excedente. A doação salva vidas — e é um gesto de amor.
Amamentar é natural, mas nem sempre é fácil. Com apoio, informação e empatia, esse processo pode se tornar mais leve, possível e poderoso.
Se esse post te ajudou, compartilhe com outras famílias. Vamos juntas apoiar a amamentação!