No mês que celebra o aleitamento materno, abrimos espaço para falar das dores, dos desafios e da potência de amamentar — com acolhimento, informação e zero romantização.

A Semana Mundial do Aleitamento Materno, celebrada de 1º a 7 de agosto, é um convite para refletirmos sobre os desafios, aprendizados e afetos que envolvem a amamentação. Mais do que um ato de nutrição, o aleitamento é um gesto potente de vínculo, resistência e amor – mas que também pode ser atravessado por dores, dúvidas e solidão.

Ninguém me contou que amamentar podia doer mais que o parto. Não só fisicamente — com mamilos rachados e peito empedrado — mas emocionalmente, quando o choro do bebê se misturava ao meu.

Com Sophia, aos 21 anos, achei que bastava pôr no peito. Não bastava.
Com Raphael, achei que já sabia tudo. Também não sabia.

Entre um filho e outro, entre o que aprendi nos livros e o que vivi com o corpo, entendi que a amamentação não é só um ato de nutrição.
É um mergulho profundo, quase selvagem, num lugar onde o instinto encontra o medo, o cansaço se mistura com o amor e o mundo parece querer opinar sobre tudo — menos perguntar: e você, mãe, como está?

Minha experiência com a amamentação foi … intensa. Mas isso é assunto pra outro dia, pra outro post dessa semana linda que a gente tá construindo juntas.

Agosto Dourado: mais que um mês de cor, uma causa de vida

Entre os dias 1º e 7 de agosto é celebrada a Semana Mundial da Amamentação (SMAM), campanha internacional promovida pela Organização Mundial da Saúde (OMS) e pelo UNICEF desde 1991. No Brasil, o movimento ganhou ainda mais força com a criação do Agosto Dourado, oficializado por lei em 2017.

A cor dourada representa o padrão ouro de qualidade nutricional do leite materno — um alimento que vai muito além da nutrição básica.

“Estas ações estão focadas na sobrevivência, proteção e desenvolvimento da criança”, reforça a enfermeira Rosimeire da Silva Criscuolo, supervisora do Programa Parto Seguro. “Com o Agosto Dourado, reforçamos os benefícios do aleitamento materno a curto, médio e longo prazo, impactando positivamente na saúde, na economia e nas questões sociais.”

O que o leite materno oferece de tão único?

Segundo a pediatra Juliana Nardelli, o leite materno é um líquido vivo, completo do ponto de vista nutricional e imunológico.

“Ele fornece todos os nutrientes essenciais que um bebê precisa para crescer e se desenvolver. Além de oferecer proteção contra infecções e ajudar a estabelecer uma flora intestinal saudável, o leite materno reduz o risco de alergias, asma e obesidade futura.”

E mais:

  • Pode reduzir em até 13% a mortalidade infantil por causas evitáveis
  • Diminui o risco de câncer de mama em até 6% a cada ano de amamentação
  • Estimula o vínculo afetivo e o desenvolvimento cognitivo, emocional e social

Amamentar também é um ato sustentável

A SMAM deste ano propõe uma reflexão poderosa: amamentar é um ato ambientalmente consciente.
O leite materno:

  • não gera lixo ou poluição,
  • não precisa de embalagem,
  • não consome água, energia ou transporte,
  • é natural, renovável e respeita o ciclo do corpo e do planeta.

Amamentar é ecológico, acessível e humano.

Desafios reais (e comuns) da amamentação

A Organização Mundial da Saúde recomenda o aleitamento materno exclusivo até os seis meses de vida. Mas, na prática, muitas mães enfrentam dificuldades — físicas, emocionais, estruturais.

Segundo Vivian Zorzim, professora e coordenadora do curso de Enfermagem do UNASP, os desafios mais comuns incluem desconforto, fissuras mamilares, dor e dificuldades de pega.

“A falta de informação e de apoio também podem fazer com que a mãe tenha obstáculos. Baixa produção, questões emocionais ou cirurgias prévias também interferem”, explica.

E o que pode ajudar?

  • Preparação durante o pré-natal
  • Contato pele a pele logo após o parto, na chamada Golden Hour
  • Início precoce da amamentação, dentro da primeira hora de vida
  • Ambiente calmo e acolhedor
  • Cuidado com a alimentação, hidratação e descanso da mãe

“O estresse e a tensão afetam diretamente a produção de leite. Paciência e persistência são fundamentais. Amamentar é um processo natural, mas exige prática e adaptação”, completa Vivian.

Mitos que precisam cair (hoje!):

🚫 “Amamentar é fácil e instintivo.”
✅ Não é. É aprendizado, prática e exige apoio.

🚫 “Seio pequeno não dá leite.”
✅ Mito total. Produção está ligada à demanda do bebê, não ao tamanho do peito.

🚫 “Se o bebê chorou após mamar, o leite não sustenta.”
✅ Choro não é medidor de leite. Confie no seu corpo e procure orientação, se necessário.

Dicas práticas para um começo mais leve:

✔️ Oriente-se ainda na gestação
✔️ Verifique a pega com ajuda profissional
✔️ Evite mamadeiras e bicos artificiais no início
✔️ Cuide do seu emocional (respiração, apoio, pausa)
✔️ Alimentação equilibrada e hidratação fazem diferença
✔️ Procure bancos de leite e consultoras de amamentação sempre que precisar

Amamentar é só mais um capítulo da maternidade. Um capítulo intenso, poderoso e vulnerável — mas que não define o valor de nenhuma mulher.

Se você amamenta, parabéns.
Se tentou e não conseguiu, parabéns.
Se está exausta, emocionada ou em dúvida … você está vivendo. E parabéns, isso é lindo.

Porque entre o peito e o mundo, existe uma mulher.
E ela merece ser ouvida, respeitada e acolhida.

Como foi ou está sendo a sua experiência com a amamentação? Vamos transformar o Agosto Dourado em rede de apoio real. Compartilhe, marque uma amiga e use a hashtag #MamãeDeSaltoAmamenta 💛👩‍🍼